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A mudança no sertão nordestino

Por Pedro Simão Camarão


A mudança no sertão nordestino

Crianças no sertão nordestino. Foto: WikiCommons

Texto de Pedro Simão Camarão, publicado originalmente no site da Fundação Perseu Abramo 

O semiárido nordestino é impactante. O solo é amarelado de tão seco, as árvores são acinzentadas, têm apenas gravetos. Esse cenário é resultado de anos de seca. Em Ouricuri, Pernambuco, a estiagem está chegando ao sétimo ano. A cidade, que fica a aproximadamente 600 quilômetros da capital Recife, é a maior do sertão, com pouco mais de 67 mil habitantes. Nessa, como em todas as outras por onde passou a caravana, o ex-presidente Lula foi recebido por uma multidão que cercava o ônibus dele e queria a todo custo vê-lo de perto e, quem sabe, conseguir tocá-lo.

Durante o ato organizado para a recepção do ex-presidente, foram muitas as falas de políticos locais ou ligados à região o enaltecendo. Um poeta e uma repentista o saudaram com seus versos cantados de forma muito sincera. Quando o locutor anunciou que dona Neta cantaria um repente para Lula, a multidão foi ao delírio, ovacionou os dois. Uma pequena senhora dona de uma voz muito forte cantou versos bonitos e concluiu com esse: “nós estando com Lula na Presidência, nada falta, tudo tem”.

Em seguida, durante o discurso de Lula, o trecho que mais causou reação no povo foi aquele em que o ex-presidente falou da importância de garantir água, leite, arroz, pão, farinha e carne para o pobre. E esse é praticamente todo o significado de Lula para quem mora no sertão nordestino. “Antes não tinha como sobreviver ‘folgado’. Os vizinhos ajudavam. Diziam ‘Enochi, você tá com fome? A gente tem farinha e rapadura, pode comer’”. Seu Enochi, de 78 anos, foi quem fez esse relato. O trabalhador rural agradeceu a Lula pelo Bolsa Família, pelas cisternas e pelos outros programas que trouxe para o povo do sertão.

“No governo Lula, não vi um pobre passar fome, um pobre passar sede”, contou Henrique, 44 anos, comerciante. Ele ainda disse que o ex-presidente deu dignidade ao pobre. Maria, de 35 anos, explica como essa dignidade se manifesta, “antes o gerente do banco não aceitava nem conversar com a gente”. Ela e a amiga Josefa, de 37 anos, valorizam as oportunidades criadas na educação, Prouni, Fies e a instalação de um Instituto Federal de Ensino na cidade. Antes só existia o trabalho na roça, no comércio local ou tinham de tentar migrar para uma grande cidade, para São Paulo.

Esses tipos de programa não são nada mais do que a garantia dos direitos básicos dos cidadãos que, certamente, melhoram o país como um todo. A longa estiagem descrita no início não é novidade. O poeta que homenageou Lula falou: “nesse sertão, mesmo na dificuldade, houve prosperidade”. Aos poucos, com a diminuição dos investimentos federais, as dificuldades voltam a aumentar e a fome e a sede reaparecem, assombrando essa parcela do povo brasileiro. Como sempre, eles mantêm a fé. Seu Enochi resumiu bem encerrando: “boa sorte pra vocês todos, que a coisa vai melhorar”.

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