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Argentina realiza ‘mini Davos’ para atrair capital internacional, mas resultado fica aquém do esperado

Direitos trabalhistas e sindicatos fortes desagradam novos investidores na Argentina


Argentina realiza ‘mini Davos’ para atrair capital internacional, mas resultado fica aquém do esperado

Reprodução/Facebook institucional

Em um momento em que o Mercosul vive uma crise causada por diferenças políticas entre os países da região, o presidente argentino Maurício Macri aposta em atrair capital internacional para seu país. A Argentina promoveu, entre os dias 12 e 15 de setembro, em Buenos Aires, o Fórum de Investimentos e Negócios da Argentina, apelidado de “mini Davos”, em referência ao Fórum Econômico Mundial, realizado anualmente na cidade de Davos, na Suíça. O resultado, no entanto, ficou aquém do esperado.

Como já aconteceu muitas vezes no continente, quando os países trabalham sem integração, os investidores estrangeiros têm mais força para fazer exigências pesadas por investimentos muitas vezes descomprometidos com o desenvolvimento do país. Esse é o momento em que governos são pressionados a fazer privatizações a baixo custo e a manter índices altíssimos de juros. Segundo a imprensa local, muitos empresários mostraram interesse em investir no país, mas em contrapartida querem trabalhadores menos organizados e com menos direitos. 

Com a presença de quase dois mil empresários e altos executivos de cerca de 70 países, a expectativa do governo argentino era de atrair recursos da ordem de US$ 175 bilhões de dólares, principalmente nos setores de energia e mineração, infraestrutura e agroindústria.

A realidade, no entanto, ficou aquém da expectativa. Embora não tenham sido divulgados números resultantes dos negócios fechados no evento, a imprensa argentina ressaltou que muitos dos empresários chegaram a manifestar interesse em investir no país, mas apontaram os direitos trabalhistas e os fortes sindicatos do país como empecilho.

O CEO da Brtitish Petroleum (BP), Bob Dudley, por exemplo, afirmou que para investir em solo argentino, sua empresa precisa de mais poços de petróleo e infraestrutura, assim como “flexibilidade trabalhista”. Já o vice-presidente do grupo italiano Trevi, Cesare Trevisani, disse que uma das barreiras aos investimentos no país é que “há um tema cultural de manter o nível de trabalho sem pensar em eficiência econômica”.

Por outro lado, o conselheiro de Comércio Exterior da França Charles-Henry Chenut classificou o fórum como “um bom golpe midiático” do governo. Ele ressaltou a agências internacionais que os empresários tendem a esperar para ver como o país reage socialmente às políticas que estão sendo adotadas e pontuou que os investidores receiam pelo histórico da Argentina: “gato escaldado têm medo de água fria. Os empresários preferem esperar e ver”, disse.

Evidência das contradições afloradas pelo tema em debate no “Mini Davos” ficou explícita quando, enquanto no Centro de Convenções Kirchner eram realizados os debates entre empresários e políticos estrangeiros e argentinos, a poucos metros dali, na emblemática Praça de Maio, pequenos agricultores realizavam um protesto distribuindo vegetais de graça como forma de chamar atenção para as condições de produção: “somos escravos de um modelo de produção baseado em agro insumos comprados em dólar e um sistema de comercialização com uma diferença de cerca de 400% entre o que recebe o trabalhador e o preço que se paga nas vendas”, dizia o manifesto dos camponeses.


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