Projeto ‘Cotton 4+Togo’ reúne especialistas brasileiros e africanos para modernizar produção algodoeira na África. Foto: Embrapa/Fabiano José Perina
28/11/2016 17:11
Da ONU Brasil
Benim é um país da África ocidental com população de aproximadamente 9 milhões de habitantes e Produto Interno Bruto (PIB) estimado em 8,3 milhões de dólares. Para gerar cerca de 10% desse montante, grande parte dos beninenses trabalham na produção de algodão, setor considerado estratégico para o desenvolvimento do país. Na África, Burquina Faso, Chade e Mali têm um quadro econômico similar ao de Benim.
“Mais de 10 milhões de pessoas na região dependem diretamente da produção algodoeira, e outros milhões são indiretamente afetados por problemas enfrentados pelo setor, que passa por diversos desafios nos âmbitos nacional e internacional”, explica o oficial de programa em cooperação Sul-Sul do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Daniel Furst.
Como um dos líderes mundiais em tecnologias de plantio direto do algodão, o Brasil iniciou em 2009 um projeto de cooperação Sul-Sul com os quatro países africanos — o Cotton-4. O objetivo é estimular a modernização do setor algodoeiro e empoderar agricultores locais.
A iniciativa é resultado de uma parceria entre a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), vinculada ao Ministério das Relações Exteriores (MRE), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o governo das quatro nações africanase o PNUD.
“É inédito o que essa cooperação nos trouxe. Hoje, com apenas um clique na tela, posso fazer análises estáticas e revelar as diferenças analisadas ”, relata o chefe do departamento técnico e administrativo do centro de pesquisas agrícolas de Benin, Sinha Maurice.
Outros envolvidos contam que a modernização produtiva exigiu estudos sociais e culturais. “Como fazer transferência de tecnologia em um país com uma cultura completamente diferente, com vários dialetos, várias línguas locais? É preciso ter uma preocupação com a sociedade, para produzir algo que melhore as condições de trabalho e a qualidade de vida”, explica o coordenador do projeto pela EMBRAPA, José Geraldo Di Stefano.
O especialista conta que novas ferramentas e sistemas de produção conseguem reduzir o tempo que os agricultores passam no campo sob circunstâncias inóspitas. “Nos momentos de alta temperatura, a dez centímetros do solo, faz 67º C. É aí que entra a tecnologia agregada ao conhecimento, para que as pessoas não se submetam a essas condições”, afirma o representante da EMBRAPA.
“O modelo da cooperação brasileira é diferente. Os outros chegam com um modelo já pronto, e eles obrigam a aplicá-lo. O modelo brasileiro é concebido junto com os países parceiros”, elogia o responsável administrativo e financeiro do Cotton-4, Roubacar Diombama.
A primeira fase do projeto terminou em 2013. “Nesse ano, nós produzimos duas toneladas [de algodão] por hectare, o que representa uma exceção no Mali”, conta o técnico agrícola do projeto, Sidiki. A média de produção do algodão por hectare no campo é de 800 quilos a uma tonelada. Na estação de três anos atrás, o índice chegou à marca de seis toneladas.
Outros resultados positivos do Cotton-4 incluem a difusão de conhecimentos científicos que podem estimular o crescimento socioeconômico das comunidades. A iniciativa realizou 21 capacitações, formando 425 técnicos. A segunda fase do programa contemplou outro país africano, o Togo, onde o Cotton-4 começou a ser implementado em 2014.
“O processo é de aprendizagem para todos os envolvidos no projeto. Tivemos um avanço trabalhando de forma participativa, de forma horizontal com os países e construindo juntos toda essa aprendizagem nesse processo de transferência de conhecimento”, relata o coordenador de projetos na África, Ásia e Oceania da ABC, Nelci Peres Caixeta.
Entre as tecnologias que têm sido transferidas para países da África, estão técnicas de aprimoramento genético, manejo integrado de pragas e plantio direto sob cobertura vegetal. Segundo o PNUD, essas estratégias não só ajudam a diminuir o impacto das mudanças no meio ambiente provocadas pela agricultura, como também reduzem a pobreza.
“O foco da iniciativa é o ser humano e, para isso, o projeto semeia não somente uma visão tecnológica, mas também uma visão antropológica, visando ao fortalecimento dos países para enfrentar os grandes problemas pelo qual o continente passará nas próximas décadas”, completa Di Stefano. “Fui trabalhar lá pelas crianças, mas não pelas crianças que estavam nas ruas hoje, e sim para os netos delas”, conclui.
Devido ao sucesso da iniciativa, o Cotton-4 inspirou outras duas parcerias entre o Brasil e a África no ramo algodoeiro. O Cotton Shire-Zambeze: Projeto regional de fortalecimento do setor algodoeiro nas bacias do baixo Shire-Zambeze incluiu Malauí e Moçambique, enquanto o Cotton Victoria estabeleceu vínculos de cooperação com Burundi, Quênia e Tanzânia.
Em 2016, a iniciativa recebeu o primeiro Prêmio “S3 Award” de Cooperação Sul-Sul para o Desenvolvimento Sustentável, organizado pelo escritório regional do PNUD para a América Latina e o Caribe (RBLAC), com apoio do Escritório de Apoio a Políticas e Programas/Cooperação Sul-Sul (BPPS/SSC), de Nova York. O projeto brasileiro foi um dos quatro ganhadores da premiação, que avaliou 33 programas de 19 países da América Latina.
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