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Em carta a Lula, ex-presidente nigeriano teme pelo futuro


Em carta a Lula, ex-presidente nigeriano teme pelo futuro

O então presidente Lula e o presidente nigeriano Obasanjo. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Durante evento realizado na última sexta-feira (14) em São Paulo, os ex-ministro Celso Amorim leu uma carta enviada a Lula pelo ex-presidente da Nigéria, Olosegun Obasanjo. O nigeriano era um dos convidados a participar do seminário internacional “Ameaças à Democracia e à Ordem Multipolar”, da Fundação Perseu Abramo, mas não pôde comparecer.  

Na mensagem, Obasanjo diz temer pelo futuro da democracia no Brasil, e lembra que o momento político do país pode ter reflexos em seu continente: “nós africanos devemos ter consciência de que se não damos as mãos para ajudar a apagar este incêndio no Brasil, nossas casas no continente africano podem logo incendiar-se, consumindo nossa incipiente democracia”.

O ex-presidente ainda relembra a relação de amizade construída durante os governos Lula, durante os quais a África foi uma prioridade. Olosegun Obasanjo diz torcer para que “o bem suplante o mal” no país, através da garantia dos direitos de Lula “ser parte do momento mais importante em décadas de democracia no Brasil”.

Confira a carta na íntegra, em tradução livre.

Caro presidente e amigo Lula,

Hoje todos nós, seus amigos ao redor do mundo, levantamos nossas vozes com um único propósito: fazer com que todo povo brasileiro e todo povo de boa-vontade ao redor do mundo saiba que nós apoiamos veementemente seu direito de ser parte do momento mais importante em décadas de democracia no Brasil. Infelizmente, não será possível unir-me a esse movimento fisicamente e pessoalmente, mas não posso falhar em enviar meu apoio e meus melhores desejos pessoalmente para você nesta ocasião para o bem suplantar o mal em seu país, assim como todo e qualquer lugar no mundo.

É difícil observar o presente momento político do Brasil sem temer pelo seu futuro, bem como pelo da democracia no Brasil. E nós africanos devemos ter consciência de que se não damos as mãos para ajudar a apagar este incêndio no Brasil, nossas casas no continente africano podem logo incendiar-se, consumindo nossa incipiente democracia.

Desde que nós nos conhecemos por primeira vez, quando eu era presidente da Nigéria, a relação entre Brasil e África somente conheceu avanços. Nós tivemos privilégio de criar em junto a Cúpula dos Países Africanos e Sul-americanos, que realizou seu primeiro encontro em 2006, na Nigéria, enquanto servíamos como presidentes de nossos respectivos países. Foi um momento histórico, quando mostramos ao mundo que a África e o Brasil possuem algumas semelhanças que nós devemos nutrir.

Como resultado, Brasil e Nigéria alcançaram um significativo crescimento de suas relações políticas e diplomáticas, como nunca antes visto. E, por conta do perdão alcançado da dívida de nosso país, foi possível criar ainda mais oportunidades para que ambos países trabalhassem em conjunto.

Tenho certeza que todos os demais líderes africanos reconhecem seu esforço, sobretudo pela África. Para mim em especial, é um grande prazer ser capaz de manter nossa amizade e encontrá-lo de tempos em tempos. E estou ansioso para ter a oportunidade de compartilhar visões e ideias sobre assuntos de interesse mútuo do Brasil com a África, sobretudo a Nigéria.

E afirmo que seus direitos que estão consagrados pela Constituição do Brasil, e que não devem ser violados e nem negados à sua pessoa.

Peço que aceite, meu caro amigo, a certeza de que estão contigo minhas preces e melhores desejos, e também minhas melhores lembranças e considerações,

Olosegun Obasanjo.

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