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Em ato, amigos lembram prisão de Lula na ditadura


Em ato, amigos lembram prisão de Lula na ditadura

Foto: Juca Guimarães

Há 39 anos, diretores do sindicato dos metalúrgicos foram presos para pressionar pelo fim de greve

Por Juca Guimarães
Do Brasil de Fato 

A luta por salários justos, melhores condições de trabalho e pela dignidade dos cidadãos brasileiros levou 17 metalúrgicos, da região ABC, à prisão em 19 de abril de 1980. Eles foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional, em plena ditadura militar, como forma de pressionar a categoria para encerrar uma greve.

“Os inimigos da classe trabalhadora são os mesmos que prenderam o Lula em 1980. Foram os mesmos que prenderam o companheiro Lula em 7 de abril de 2018, que mataram a Marielle Franco e que estão promovendo o genocídio contra os jovens negros e os índios no Brasil”, disse Djalma Bom, de 80 anos, ex-tesoureiro do Sindicato dos Metalúrgicos, que estava no grupo de dirigentes presos junto com Luiz Inácio Lula da Silva e com os outros 15 trabalhadores.

Na tarde desta sexta-feira, dia 19, Djalma Bom participou de um ato em memória da outra prisão de Lula e dos metalúrgicos, que durou até o dia 20 de maio daquele ano, na sede do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), um dos principais centros de tortura do regime militar.

De acordo com Djalma, os oito primeiros dias foram de isolamento total, tortura psicológica e restrições. Eles dividiram a mesma cela, com a luz mantida acesa a noite inteira, o mesmo café, servido com sal, e partilharam o medo constante de serem assassinados.

“Se tivesse que fazer tudo de novo em benefício da classe trabalhadora, eu faria”, disse o ex-metalúrgico, que foi preso aos 41 anos de idade.

Os trabalhadores foram levados às 6h da manhã de suas casas e encaminhados diretamente para a sede DOPS. “Fizeram uma operação grande, interditaram a rua e vários policiais federais invadiram a minha casa. Me deixaram trocar de roupa, mas teve companheiro que foi preso de pijama”, relata.

Da cela de número quatro das antigas instalações do DOPS, onde hoje fica o Museu da Resistência, em São Paulo, Djalma lembrou de quando os companheiros de cela souberam da morte da mãe de Lula. “Ele chorou e todos nós choramos também”, disse.

De acordo com o ex-deputado estadual Adriano Diogo, que foi torturado pelo regime militar na ditadura, a greve dos trabalhadores — em uma das regiões mais industrializadas no país —  foi importante para a volta da democracia.

“Foi naquela greve que começou a acabar a ditadura. Por isso, esse ato é importante. A ditadura estava tão acuada que não tinha outra solução a não ser autorizar o Lula a ir ao enterro da mãe e assim tentar apaziguar a greve, senão a greve não ia acabar nunca”, disse.

Diogo faz um paralelo com os dias atuais e a situação política do país, tão marcada pela retirada de direitos e opressão à classe trabalhadora.

“Se a gente perceber a dimensão histórica deste pequeno ato, 39 anos depois, vamos tirar a lição que, se houver mobilização, vamos tirar o Lula da cadeia e devolveremos o País à democracia”, disse.

Durante o ato no Museu da Resistência, qualificada por Diogo como “a casa da morte foi o lugar onde mais se matou gente e se torturou no país”, foram feitas manifestações contra a reforma da Previdência, que corta valores de benefícios e cria um sistema de capitalização individual sem garantia de aposentadoria digna, de acordo com a proposta por Jair Bolsonaro e o ex-banqueiro Paulo Guedes, ministro da Economia.

Edição: Pedro Ribeiro Nogueira

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