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Os dois lados de São Miguel das Missões

Famílias comemoravam com música, dança e alegria a passagem da comitiva do ex-presidente; do outro lado do terreno onde ficam as ruínas tombadas da cidade, xingamentos machistas e ameaças de violência


Os dois lados de São Miguel das Missões

Lula, Dilma, Olívio Dutra e Miguel Rossetto com comunidade indígena em São Miguel Arcanjo. Foto: Ricardo Stuckert

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Por Claudia Motta
Da Rede Brasil Atual 

O ex-presidente aportou com sua Caravana em visita às ruínas de uma missão jesuítica em São Miguel das Missões.

A cidade, de menos de 8 mil habitantes, tombada pela Unesco como Patrimônio da Humanidade, também assistiu aos episódios que já se tornaram rotina na viagem pelo Sul do Brasil que teve início na segunda-feira (19), no município gaúcho de Bagé, e será encerrada em 28 de março em Curitiba, capital paranaense.

Nesta quinta-feira (22), enquanto famílias inteiras comemoravam com música, dança e muita alegria a visita da Caravana a São Miguel, do outro lado do terreno onde ficam as ruínas, xingamentos machistas e ameaças de violência dos ocupantes de grandes tratores comprados com recursos de programas dos governos petistas.

As palavras de baixo calão eram dirigidas principalmente às mulheres que acompanham a comitiva: a ex-presidenta Dilma Rousseff, a senadora Gleisi Hoffmann e a deputada federal Maria do Rosário, acusada de defender “direitos desumanos”. Rosário já venceu uma ação judicial por apologia ao estupro contra o deputado Jair Bolsonaro, o pré-candidato à presidência da República estampado em faixas e adesivos nos protestos dos ruralistas.

“A visita da Caravana aqui no Rio Grande do Sul resgata uma coisa antiga que nós conhecíamos que é a disputa de classes. Desde a chegada lá em Bagé, aqui, em Santa Maria, em alguns lugares menos, em alguns lugares mais, a gente percebe o aceleramento dessa disputa de classes”, afirmou Arno Bona, 58 anos. 

Ex-funcionário público, há três anos trabalha no Instituto Cultural Padre Josino, entidade que dá apoio técnico para acesso aos programas sociais, aos pequenos agricultores assentados na região sul do estado. Vive, no dia a dia, a disputa citada por ele.

“Há dois lados aqui. O de lá, que é o lado dos mais ricos, que são minoria. E o lado de cá, onde encontramos essa multidão de gente, que está disputando espaço, a hegemonia, o mercado.”

Elenita Santos Fang, 62 anos, professora aposentada, era uma das muita mães que estavam “do lado de cá”, nas ruínas da missão jesuítica para ver de perto Lula e Dilma. “Acho importantíssima essa visita. É muito bom que ele esteja aqui justamente hoje. Estamos juntos contra os corruptos que até tiraram o cargo da Dilma. O que ela fez de errado foi ajudar o povo. Lula e Dilma foram da classe pobre que hoje tem moradia, Luz para Todos, faculdade para os nossos filhos. Com certeza os protestos aqui são por isso. Nunca fazem e agora querem atirar pedras nos outros. Mas Lula e Dilma nunca se viu com malas de dinheiro, e todo mundo viu, mas o Temer  lá e não sei até quando. Tem de ser Temer fora já!”

Papagaio e bobalhões

Vaneza Portinho, 38 anos, microempresária do setor de alimentação, estava, como tantas outros, com a família ali: os filhos pequenos Jefferson e Dara, e a avó Maria da Glória Freitas. “Gosto muito dele”, disse a senhora de 85 anos, que fez questão de sair de casa para ver o ex-presidente de perto.

A neta também. “Vim ver o Lula e o pessoal todo dele. É um modo de a gente demonstrar o carinho que temos por ele e por tudo que fez em todo o Brasil, principalmente pelo pessoal de mais necessidade, como crianças, idosos, mães de família que ele muito apoiou no Minha Casa Minha Vida, Bolsa Família.”

Sobre os protestos do outro lado da cerca, disse que é muito fácil julgar. “Queria dizer ao mundo inteiro: atire a primeira pedra quem nunca errou. Hoje as pessoas julgam sem olhar o bom da pessoa. É bem fácil ficar aí esse acumulo de pessoas, falando e criticando. Criticar é fácil, falar até o papagaio fala, né? Isso é normal.”

Sobre as razões do julgamento de Lula, ela atribuiu “a outros partidos que vão querer ganhar em cima de coisas que podem não ter acontecido”. “Provas até agora eu não vi, não assisti para dizer que ele deva ser condenado.”

E afasta o risco de prisão do ex-presidente. “Por ele ser a pessoa que ele foi e fazer o que ele fez, Deus vai olhar e vai mostrar que não existe; só existe na boca das pessoas, desses juízes e promotores. Ele vai sair inocentado, rezo por isso todos os dias. Deus estará com Lula em todos os momentos porque ele merece.”

Sonia da Silva Lemos, 52 anos, brinca: “Lula vem até a ser meu parente, da Silva, né?”. A agricultora dançava animada ao som da sanfona que tocava no caminhão de som, enquanto a comitiva visitava as ruínas. “A gente  aqui para apoiar o Lula, a gente quer Lula de novo. Ele foi bom para nós, para todo mundo.”

RBA
Integrantes da Caravana em Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo, em São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul

Conta que largou tudo para trás quando soube que a Caravana iria passar por lá. “Deixei a casa sozinha, rancho pra fazer, bicho sozinho.”

Com uma gostosa gargalhada, disse sobre o protesto de ruralistas: “são uns bobalhões. Estão acusando de que se não provaram nada contra o Lula? Tiraram a Dilma de lá por quê? Não provaram nada, são uns bobalhões.”

Questão constitucional

Sobre o julgamento no STF, Arno fala em um tribunal “que ficou refém da mídia”. Mesmo assim, acredita que a decisão será favorável ao ex-presidente. “A não ser que se consiga constranger um dos juízes, que seria o voto que faz a diferença, pelo fato de ter colocado na pauta o julgamento do habeas corpus do Lula e não aos anteriores, em relação à segunda instância. Se não houver esse constrangimento, que é a Globo pressionando, a mídia fazendo a população entender que os juízes estariam nesse caso agindo a favor do Lula, o que não é verdade. Estão julgando uma questão constitucional e não um fato isolado que está acontecendo com ele”, ensina Arno.

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