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Os riscos da extrema direita no Brasil e no mundo

Realizado pelo Instituto Lula, curso internacional sobre a realidade política e eleitoral da América Latina debateu os retrocessos impostos pelos políticos da extrema direita e a importância do diálogo com a sociedade para combatê-los


Os riscos da extrema direita no Brasil e no mundo

“Temos de repensar nossa forma de atuar e é isso que a gente está fazendo. Caso contrário, ‘soluções fáceis’ acabam sendo um fator de coalizão de discursos simplistas. E para que haja uma caricatura disso, acaba-se dando palco e elegendo pessoas como (o ex-presidente Jair) Bolsonaro. Uma pessoa despreparada, mas ouvido por milhões de pessoas porque responde ao anseio econômico com um discurso simplista. Se a pessoa chega para ele falando da preocupação com a invasão de sua propriedade, ele fala em dar arma para se defender. Um discurso de dez segundos.”   


Assim o presidente da Fundação Perseu Abramo (FPA), Paulo Okamotto, resumiu uma das tantas tragédias impostas pela extrema-direita ao Brasil e ao mundo, como resposta aos problemas da sociedade. A fala, durante o seminário internacional sobre a realidade política e eleitoral da América Latina, realizado pelo Instituto Lula (IL) em junho passado, provou-se tragicamente atual. 


Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos e - assim como Bolsonaro - ferrenho defensor do armamento da população, foi vítima de um atentado, no último sábado (13). Thomas Crooks, registrado no sistema eleitoral da Pensilvânia como republicano (partido de direita, o mesmo do ex-presidente), atirou contra Trump durante seu discurso de campanha. Além do ex-presidente, uma pessoa foi ferida e outra morreu.  


Durante o curso, Okamotto falou sobre esse grande movimento de direita e extrema direita que se expressa em muitos países da América do Sul, da Europa, dos Estados Unidos. “Em quase todo mundo tem essas figuras que chamam muita atenção porque têm um comportamento excêntrico e isso acaba atraindo muita mídia.”


O seminário também contou com a presença de Ivone Silva, presidenta licenciada do Instituto Lula; Márcia Lopes, ex-ministra do Desenvolvimento Social do governo Lula; Sergio Nobre, presidente da CUT; Ana Flavia Marques, presidenta interina do Instituto Lula, fez a mediação do debate. 


Como sindicalista e político, Okamotto, que também é diretor do Instituto Lula, tenta entender como o povo pensa, forma seus valores, sua prática, para poder dialogar. “Tenho observado que a extrema direita hoje tem uma capacidade de organização que nunca tiveram. E isso porque talvez não tivessem representantes que chamassem tanta atenção diante dos absurdos e mentiras que contam para responder às grandes dificuldades que a sociedade enfrenta.”


Assista ao curso completo:


Simplismo 

O dirigente lembrou que junto de Bolsonaro se articula toda uma parcela importante dos conservadores e da direita. “Eles se organizam em torno de bandeiras construídas do senso comum. Por exemplo, a questão da violência, um problema muito importante no país.” Para eles, compara Okamotto, o problema poderia ser solucionado prendendo mais pessoas. Em caso de enfrentamento, matar essas pessoas. Daí o incentivo ao armamento. Além de reduzir a penalização para menores de idade. 


O mesmo simplismo se dá com a questão do emprego. O Brasil aumentou novamente o nível de emprego no terceiro governo Lula. São 40 milhões de trabalhadores formalizados, empregados com direitos, carteira assinada, pagando a Previdência Social. E 60 milhões de brasileiros que trabalham sem registro, na informalidade. Para eles, resolver a questão do emprego é se tornar esse “empreendedor”, sem legislação. 


“Penso que muitas bandeiras da direita têm viés econômico por trás. Quando as populações da Europa, dos Estados Unidos fazem grandes manifestações contra os imigrantes, no fundo é uma preocupação contra os imigrantes que vão tomar seus empregos e os empregos de seus filhos, no entendimento dessa maioria que vota contra uma política de acolhimento desses imigrantes”, avalia. “E a esquerda não tem tido capacidade de dialogar com esses setores explicando que é necessário desenvolver a África, os países subdesenvolvidos, a América Latina. Então um discurso simplista acaba sendo acolhido por milhões de pessoas.”


Desafios do governo Lula

Presidenta licenciada do Instituto Lula, Ivone Silva comentou os desafios do terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva nesse cenário. “No primeiro e no segundo governo vivíamos em uma sociedade democrática. Nesse terceiro governo, Lula enfrenta problemas que vêm desde o impeachment da presidenta Dilma Rousseff”, explica a dirigente. “Com o golpe, houve um retrocesso nos direitos dos cidadãos, dos trabalhadores. Como o teto de gastos que retirou muitas verbas da educação e da saúde. Nesse cenário surge um governo fascista que retirou os poucos direitos, que defende um Estado mínimo. Reconstruir a democracia é, então, um dos desafios desse terceiro mandato.”


Candidata à vereadora na cidade de São Paulo, Ivone avalia a importância de a população entender que é possível o Estado fazer políticas públicas para ela. E os avanços do terceiro mandato de Lula nesse sentido. “Temos a reconstrução da área de saúde, principalmente da vacinação. Éramos o país que mais vacinava e o negacionismo fascista acabou também com isso. O Brasil tem o desafio de fortalecer o SUS.” 


Direita tem de ser derrotada

O presidente da Central Única dos Trabalhadores, Sergio Nobre, classificou as eleições de 2022 “como a mais importante das últimas décadas”. A extrema direita não aceitou o resultado e tentou dar o golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023. “Tentam provocar o caos para desacreditar as instituições e o processo democrático. Mesmo nesse cenário adverso, no qual a esquerda é minoria no parlamento, o governo Lula tem conseguido obter resultados expressivos no plano nacional e internacional.” 


E tudo diante da destruição deixada pelo governo anterior. Entre vários avanços, Nobre cita o esforço do governo em ampliar a participação da sociedade na definição e gestão de políticas públicas por meio das conferências temáticas e mesas nacionais de negociação. E lembra o compromisso de Lula de reorientar o governo brasileiro rumo a uma economia de baixo carbono respeitando os critérios e procedimentos ambientais e sociais de uma transição verdadeiramente justa. E isso, destaca ele, com a economia em franco crescimento, respeitando por exemplo a retomada da valorização do salário mínimo, fundamental para toda a sociedade. 


“A extrema direita brasileira não é uma força política normal. É uma força destrutiva que só é capaz de prosperar num ambiente de conflito permanente, de desconfiança entre os cidadãos e as instituições. É a negação da política como meio de concertação civilizada entre interesses sociais divergentes. Fez estragos enormes no país. Foram anos de destruição e de retrocesso civilizatório. Por isso deve ser combatida e derrotada.” 


Sucesso no combate à fome

A ex-ministra do Desenvolvimento Social Márcia Lopes relatou aos participantes do curso a experiência da luta no combate à fome nos governos do presidente Lula. Ela lembrou diretrizes fundamentais da Constituição brasileira, ignoradas pela extrema direita, como a descentralização das políticas públicas, a universalização do acesso da população aos seus diretos, a participação da sociedade. “Assim que assume, em 2003, Lula coloca como prioridade a superação da fome no Brasil. À época tínhamos 44 milhões de pessoas no Brasil passando fome, vivendo grandes sofrimentos humanos.”     


Nesse contexto, Lula lança o Fome Zero que integrava 13 ministérios, coordenados por Márcia durante cinco anos. Dessa estratégia fazia parte o programa Bolsa Família, como transferência de renda, para assegurar que as famílias pudessem comprar produtos de necessidades básicas. Também o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) da agricultura familiar; o Pronaf, programa de acesso ao crédito para esses agricultores; além da alimentação escolar que ganhou aumento importantíssimo de recursos para assegurar que as crianças, em todas as escolas brasileiras, tivessem alimentação adequada. A ex-ministra cita ainda as cisternas, os restaurantes populares, as hortas e cozinhas comunitárias, o trabalho de assistência social. 


“Não há dúvida que o Fome Zero foi uma estratégia acertada. Ao final dos governos Lula e Dilma quase 40 milhões de pessoas saíram da condição de pobreza porque passaram a ter acesso a alimentos saudáveis, na quantidade e qualidade necessária que é o conceito de segurança alimentar e nutricional.” 









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