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Zilah Abramo e a luta das mulheres na ditadura


Zilah Abramo e a luta das mulheres na ditadura

Foto: Reprodução/Fundação Perseu Abramo

Por Gabriella Gualberto, para a Fundação Perseu Abramo

Há dois anos, no dia 16 de agosto de 2018, perdíamos um símbolo de resistência e da luta por anistia no Brasil: Zilah Wendel Abramo.

Neste momento em que a democracia brasileira está sob ataques diários, importante lembrar que Zilah foi uma das bravas lutadoras pela redemocratização do país e pela anistia. Zilah foi fundadora do Comitê Brasileiro pela Anistia de São Paulo e participou do movimento de mulheres pela anistia.

Em 1975 iniciou-se uma campanha organizada pela anistia, com o surgimento em março do Movimento Feminino pela Anistia (MFPA), na cidade de São Paulo, sob a liderança de Therezinha Zerbini, esposa do general cassado Euryales Zerbini, do qual Zilah participava. Mas foi a partir de 1978, que ela se dedicou integralmente à campanha da Anistia.

Foi através da criação da Comissão de Mães em Defesa dos Direitos Humanos, um grupo mães de universitários que estavam nas ruas contra a ditadura, que Zilah se encontrou. Mãe de cinco filhos, os três mais velhos no movimento estudantil, ela contou em um relato que a criação do grupo se deu a partir da “tomada de consciência de que nós, mães de estudantes, não poderíamos continuar, cada uma isolada em sua casa, angustiada e impotente, esperando cada fim de ato público, cada fim de passeata, sempre temendo o pior.”

Quando a onda de repressão aos estudantes diminuiu, Zilah se integrou a campanha da Anistia Ampla, Geral e Irrestrita. E o 1º Congresso Nacional pela Anistia, realizado em novembro de 1978, em São Paulo, deixou clara a proposta defendida pelo movimento. A anistia não poderia ser confundida com perdão ou esquecimento dos crimes praticados pela ditadura; e buscaria o esclarecimento desses crimes, com a responsabilização dos culpados. Ao mesmo tempo, deveriam ser reintegradas às suas funções as pessoas que haviam sido afastadas arbitrariamente de seus cargos.

Após muita luta, o governo não teve como segurar e no dia 28 de agosto de 1979 decretou a Lei da Anistia, que mesmo com suas limitações e contradições, representou, naquele momento, uma grande vitória das forças democráticas sobre a ditadura. Ela permitiu o retorno ao país de centenas de ex-presos políticos, de exilados e clandestinos, e fez justiça a milhares de pessoas que haviam tido seus direitos políticos cassados e perdido seus empregos.

Em um texto de 2009 sobre as mulheres na luta pela Anistia, Zilah conta como foi importante a união das mães naquele momento e o que sentiu com a vitória da campanha por anistia.

“Foram anos de muita emoção, de muita vibração, de muita solidariedade. A campanha da Anistia foi a continuidade natural do nosso trabalho inicial na Comissão de Mães. Ambas as experiências constituíram o processo de minha libertação do período anterior, de semi-clandestinidade, quando aparentemente tinha uma vida normal, com endereço certo, trabalho garantido, documentos em ordem, mas os meus verdadeiros sentimentos, minhas idéias e convicções, estavam na clandestinidade, porque só podiam ser expressos 'atrás de portas fechadas, à luz de velas acesas', como as dos conspiradores do Romanceiro da Inconfidência, cantados no belíssimo poema de Cecília Meireles.”

Hoje é importante ressaltar que a Lei de Anistia não representou, de modo algum, um “grande acordo nacional”, como setores que foram ligados à ditadura querem fazer crer. Se por um lado a lei fez justiça a grande parte dos que lutaram contra o arbítrio, por outro os militares anistiaram a si mesmos e a todos os que atuaram ao seu lado na repressão. Ao proteger os torturadores e seus comandantes, a Lei da Anistia abriu espaço para a perpetuação da impunidade e da injustiça. A luta de Zilah continua.

Zilah foi fundadora do Partido dos Trabalhadores, colaborou ativamente na constituição da Fundação que leva o nome de seu marido, Perseu Abramo, compôs sua primeira diretoria e foi vice-presidenta e também presidenta do Conselho Curador desta instituição.

O Centro Sérgio Buarque de Holanda guarda em seu acervo um vasto arquivo sobre o Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA), do qual Zilah W. Abramo foi uma das vozes mais ativas, e sobre a Lei da Anistia. Acesse:

Fotografias:

Reunião de familiares de desaparecidos políticos integrantes do Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA)

Entrevista coletiva com familiares de desaparecidos políticos

Cartazes:

Anistia ampla e total e irrestrita

É hora da reconstrução

18 de abril: Anistia ampla, geral e irrestrita

Anistia: Qualquer informação procure o Comitê Brasileiro pela Anistia mais próximo

Textos:

Jornal Em Tempo Nº 3: LUTA PELA ANISTIA

Jornal Em Tempo Nº 7: ANISTIA GANHA FORÇA

Jornal Em Tempo Nº 29: Comitês de anistia definem luta unitária

Jornal Em Tempo Nº 78: Ditadura anistia torturadores e declara guerra aos trabalhadores

Este texto é um trabalho do Memorial da Democracia, o museu virtual das lutas democráticas do povo brasileiro, que é mantido pela Fundação Perseu Abramo e pelo Instituto Lula.

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