Pesquisadores do Instituto Lula falam sobre as dificuldades de agentes culturais para acessar meios digitais e garantir recursos da Lei Aldir Blanc
Divulgação
09/06/2022 20:06
O grupo de pesquisa front-D do Instituto Lula apresentou nesta quinta-feira (9) a segunda parte do boletim digital sobre “Cultura na era digital” no canal do YouTube do Instituto Lula. Para debater o tema “Tecnologias digitais, cultura e pandemia: fronteiras e desigualdades”, os pesquisadores Larissa Guimarães e Amarildo Ferreira receberam dois convidados. A atriz e produtora cultural Verônica Diaz Rocha e o bacharel em segurança pública e mestre capoeirista Dagoberto Luís Ventura Mota, mestre Caimbé, falaram sobre seus trabalhos em período de pandemia. E relataram as dificuldades de acesso às leis de incentivo.
O objetivo do grupo de pesquisa é pautar agendas propositivas com alternativas para o uso das tecnologias digitais que levem em conta especificidades locais e culturais, de forma a não agravar a já imensa desigualdade também nesse setor.
Assista ao vídeo, abaixo
Leia o boletim
A mesa redonda
Larissa Guimarães iniciou os debates lembrando que entre 2016 e 2022 houve um contínuo encolhimento das capacidades institucionais de atuação no campo da cultura no Brasil. Em seu lugar, passa a ser intensificado o incentivo neoliberal à concorrência, agravado pelo isolamento social determinado pela pandemia da covid-19. “Assim, há possibilidade de gerar mais exclusão digital de corpos e territórios que já são historicamente minorizados. Um processo que aprofunda as desigualdades pré-existentes”, observou a pesquisadora.
O professor Amarildo ressaltou a importância de debater a interface entre cultura e a era digital. “Sentimos a necessidade de pensarmos novas agendas que vão trazer essa questão da tecnologia visando abrir diversas possibilidades de desenvolvimento de uma cultura como bem público”, disse, mencionando os impactos da pandemia no setor cultural e a Lei Aldir Blanc (LAB). "Ficamos dependentes de plataformas vinculadas a grandes conglomerados empresariais, como Facebook, Instagram, YouTube."
Recursos para a cultura em tempos de pandemia
Pesquisadora do tema, Veronica Diaz relata que os agentes culturais foram devastados. “Raros são os que trabalham sozinhos, em casa. Com a pandemia fomos obrigados a ficar em casa. E todo mundo que tira seu sustento da cultura, foi excluído da renda emergencial do governo federal. Assim, houve uma intensa mobilização pela aprovação da LAB”, lembra.
No Rio de Janeiro, conta ela, foram feitos quatro editais, em modo digital, para acesso aos incentivos culturais da lei. Esse formato, no entanto, excluiu quem não tinha equipamento, internet de qualidade, ou o conhecimento necessário. Além disso, nem todas as formas de expressão cultural ficam bem quando adaptadas para a lógica virtual. “Muitas das atividades culturais precisam do corpo, do olho no olho. E alguns não conseguiram fazer essa adaptação”, conta Diaz.
A pesquisa de Veronica Diaz sobre essa situação ainda está em andamento. “No final faremos um seminário para discutir todos os resultados. O que a gente conseguir aprender com essa nossa pesquisa sobre a (primeira parte) LAB será importante para termos um aprimoramento tanto dos instrumentos como para esses recursos chegarem a mais agentes, mais bem distribuídos territorialmente. Ampliar esse acesso e aprofundar a democracia.”
Mestre Caimbé também falou sobre as dificuldades de acesso aos meios digitais para conseguir se inserir na LAB. “Tentamos mobilizar o máximo de pessoas para que pudessem participar”, lembra, relatando as inúmeras dificuldade. “Além de assessorar os mestres de capoeira, tivemos de assessorar os mestres da cultura popular que não tinham esse tipo de acesso (digital).”
O resultado, avalia, foi interessante. “Conseguimos aprovar em torno de 30 a 40 projetos. Pessoas que estavam sem poder aula, sem ter acesso a alguma coisa. Um recurso que pode ser movimentado, investido.”
Sobre o front-D
O projeto do Instituto Lula chamado "Novas e velhas desigualdades na era digital no Brasil da terceira década do século 21" conta com o núcleo de pesquisa front-D, dedicado ao mapeamento da fronteira digital. Ou seja, o grupo investiga como a tecnologia impacta o cotidiano das pessoas na cidade, na cultura, na saúde, na economia, nas dinâmicas de trabalho e na organização política. O front-D produziu uma série de boletins online apresentando os resultados das pesquisas.
O núcleo publica dois boletins para cada um dos seguintes temas
1. Políticas de cuidado
2. Vida nas cidades
3. Cultura na era digital
4. Pequenos agricultores e plataformas digitais
5. Nova cartografia digital
6. Financeirização e tecnologias digitais no ensino superior
Nos links abaixo, leia e baixe todos os boletins publicados pelo front-D.
Parte 1
1 - O cuidado na agenda política, o cuidado em disputa
2 - Cidades Inteligentes: soluções e desafios para cidades menos desiguais
3 - Cultura e Tecnologia no Brasil recente
4 - Quando os agricultores são impulsionados pela internet na China
5 - A Amazônia entre a terra e as techs nas novas fronteiras digitais
6 - Economia política das tecnologias digitais no Ensino Superior
Parte 2
3 - Tecnologias Digitais, Cultura e Pandemia: fronteiras e desigualdades
4 - O estudo de caso das Vilas Taobao
5. O ambiente entre as tecnologias digitais acionadas por governo e sociedade
6 - Tecnologias digitais no ensino superior: desafios de uma sociedade desigual