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Diálogos no Instituto Lula debate racismo e preconceito 130 anos após abolição

Evento marcou o início da série "Diálogos no Instituto Lula"


Diálogos no Instituto Lula debate racismo e preconceito 130 anos após abolição

O Instituto Lula discutiu os reflexos da escravidão na sociedade brasileira 130 anos após a abolição no debate inaugural da série "Diálogos no Instituto Lula". O historiador Luiz Felipe de Alencastro e a antropóloga Jaqueline Santos falaram ao vivo na internet durante duas horas.

Nenhum país do mundo recebeu mais escravos africanos do que o Brasil, que foi também a última nação a abolir a escravidão nas Américas. Passados 130 anos da abolição, a população afrodescendente já é maioria na sociedade brasileira. Ainda assim, o preconceito e o racismo estrutural estão cada vez mais evidentes.

Durante seus dois mandatos, o ex-presidente Lula deu tratamento inédito às relações com o continente africano. Além da abertura de novas embaixadas, o Brasil mais do que triplicou o volume de transações comerciais com a África e passou a ser visto como exemplo em superação da fome e da pobreza. Internamente, Lula criou o ministério da Igualdade Racial, promoveu a inclusão universitária de jovens negros brasileiros e africanos. A primeira lei assinada após sua posse tornou obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira e africana nas escolas públicas e particulares de ensino médio e fundamental. Lula criou ainda – em parceria com países africanos – a Unilab, a Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira. 

Na abertura do debate, Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, lembrou do patrono da instituição. "Lula adoraria estar aqui hoje. Infelizmente, hoje temos um inocente preso em Curitiba, impossibilitado de estar aqui e debater as questões do país com vocês".

Luiz Felipe de Alencastro, um dos maiores historiadores em África e professor da Sorbonne e da Fundação Getúlio Vargas, disse que o Supremo Tribunal Federal reconheceu que não existe democracia racial no Brasil ao considerar legais e legítimas as políticas de cotas. "Com todo o retrocesso que o governo Temer está promovendo, essa foi uma questão que eles não mexeram. E se não mexeram é porque hoje é muito difícil voltar atrás na questão das cotas raciais".

A antropóloga Jaqueline Santos, doutoranda pela Unicamp, falou dos movimentos negros após a abolição e disse que a prisão do Lula representa um retrocesso nessa luta. Jaqueline lembrou que o projeto de construção do Estado brasileiro teve como modelo o estado europeu, mesmo sendo os descendentes de europeus minoria da população. Esse projeto de Estado desvalorizava o que não era europeu e o movimento negro inicia sua luta buscando cidadania. A partir da segunda metade do século passado, o movimento negro brasileiro passa a se inspirar em movimentos de outros países, ampliando suas reivindicações. A fundação do Movimento Negro Unificado, em 1978, e a marcha Zumbi dos Palmares, em 1995, são dois marcos nessa luta.

Na avaliação de Jaqueline, o movimento teve conquistas importantes, mas ainda é um desafio dar efetividade mesmo às conquistas que já viraram lei. Conta, por exemplo, que é bastante comum nos processos sobre racismo o Judiciário dar vitória ao lado ofensor, e não ao ofendido. Recentemente, a situação piorou. "O avanço das pautas do movimento negro despertou a reação de movimentos contrários, uma onda conservadora. Com isso, mantêm a situação em que as desigualdades sociais estruturam as relações cotidianas e trabalham para dificultar a transformação desse contexto". 

Acompanhe acima o debate na íntegra.


Luiz Felipe de Alencastro é historiador e cientista político. É professor emérito da Sorbonne e professor da Escola de Economia da FGV.

Jaqueline Santos é mestre em antropologia social pela Unesp e doutoranda pela Unicamp. Foi pesquisadora residente no Centro Hutchins para Pesquisa Africana e Americana na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

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