20/03/2019 13:03
Fraco na mesa de negociações, Brasil entrega o certo e aceita promessa de apoio em troca
Em troca do apoio americano à entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o presidente Jair Bolsonaro anunciou que aceitou abrir mão do status de país emergente na Organização Mundial do Comércio (OMC). Na prática, em troca de uma promessa que pode não resultar em nada — já que a entrada do Brasil na OCDE não depende da vontade dos Estados Unidos ou de outro país — o Brasil abre mão de vantagens comerciais e aceita condições piores do que as que levaram Chile, Colômbia, México e Turquia à OCDE.
Álvaro Gribel, interino da colunista de O Globo Míriam Leitão, reconhece que trata-se de "trocar o certo pelo duvidoso". Em entrevista ao repórter, Gabriel Petrus, que é diretor-executivo da Câmara de Comércio Internacional, explica: "O status de país emergente dá mais prazos para o Brasil implementar acordos comerciais e oferece mecanismos interessantes para negociações com economias desenvolvidas. O Brasil abre mão deste status por um apoio que ainda não oferece garantias totais de adesão à OCDE".
Além disso, a troca não oferece vantagens, segundo Petrus: "A OMC, lembra Petrus, é uma organização com poder de sanção internacional. Já a OCDE é um órgão que promove boas práticas, faz estudos e recomendações aos demais países. A entrada do Brasil na OCDE teria o poder de pressionar o Congresso brasileiro por reformas. Já o status na OMC beneficia diversos setores da nossa economia, da indústria ao agronegócio".
O Brasil está aceitando condições que jamais foram impostas a outros países em troca de um apoio a sua entrada na OCDE. Colômbia e México entraram recentemente na OCDE e nenhum deles renunciou a seu status de país em desenvolvimento. Essas demandas jamais foram impostas também a Chile e Turquia, ambos membros da OCDE.
O acordo pode ser ainda pior, se acreditarmos no que publica o site O Antagonista, que pertence a uma consultoria financeira:
"O representante de Comércio dos EUA, Roberto Lighthizer, tem uma listinha de exigências, segundo uma fonte da diplomacia brasileira:
– que o Brasil deixe a lista de países com tratamento diferenciado da OMC, passando a ser encarado como uma economia desenvolvida;
– melhores conduções de acesso ao mercado brasileiro;
– alinhamento aos EUA na guerra comercial com a China;
– apoio total a Israel."
De qualquer maneira o Brasil, fraco na mesa de negociações, já saiu perdendo.