Foto: Ricardo Stuckert
07/04/2019 13:04
O ex-ministro de Relações Internacionais no governo Lula Celso Amorim publicou neste domingo um artigo no jornal "Página 12", um dos maiores da Argentina, defendendo a liberdade e o Nobel da Paz para o ex-presidente Lula.
Preso sem provas há um ano, Lula foi impedido de concorrer a Presidência e até mesmo de dar entrevistas ou de ter sua voz gravada quando saiu da prisão para velar um neto. A campanha pelo Nobel da Paz começou com a indicação feita por Adolfo Pérez Esquivel, ele mesmo ganhador de um Nobel, em 1980. O argentino baseou sua proposta no trabalho de Lula para eliminar a fome no Brasil e na influência que o Programa Bolsa Família teve em todo o mundo, sendo modelo para outros programas na América Latina, Caribe e África. Desde seu lançamento, a campanha angariou milhares de defensores.
O embaixador Celso Amorim, em seu artigo, conta que se as conquistas na luta contra a fome já seriam suficientes para a nomeação, as políticas de Lula tiveram efeitos igualmente importantes na paz da região e do mundo. Lula atuou na criação do Grupo de Amigos da Venezuela, que evitou uma guerra civil na nação vizinha. Lula também mediou um conflito interno na Bolívia, entre o Altiplano e a Media Luna. O Brasil de Lula levou esse papel ao alcance global. Na Conferência de Anápolis, relançou a rota para a paz entre Palestina e Israel. Junto com a Turquia, conseguiu a assinatura da Declaração de Teerã, que foi precursora do Acordo de Irã, assinado entre os Estados Unidos, Irã e mais cinco países anos depois.
Na mesma edição, o escritor Eric Nepomuceno escreveu sobre a prisão injusta de Lula .
Leia abaixo o artigo completo de Celso Amorim:
Lula livre, Lula Nobel
Por Celso Amorim
Seis dias após a prisão do Presidente Lula, Adolfo Pérez Esquivel lançou, por uma plataforma da internet, a campanha em favor da indicação do ex-Presidente brasileiro ao Prêmio Nobel da Paz. Poucas semanas antes ele havia estado com Lula no Instituto que leva o seu nome e mencionara a ideia. Acompanhei o ativista argentino de Direitos Humanos, levado pela jurista Carol Proner, nessa visita. Na ocasião, Esquivel fundamentou sua proposta lembrando o trabalho de Lula para eliminar a fome no Brasil e a influência que o nosso programa Fome Zero teve em várias partes do mundo, tanto pelo exemplo quanto por meio de programas concretos de cooperação, sobretudo na América Latina e Caribe e na África.
A importância da iniciativa de Lula não escapou a líderes de várias partes do mundo. O Presidente francês Jacques Chirac se associaria ao nosso presidente em uma Campanha Global de Combate à Fome e à Pobreza, à qual se juntaram outros Chefes de Governo, como Ricardo Lagos, do Chile, e José Luis Zapatero, da Espanha, além do Secretário Geral da ONU, Kofi Annan. Em 2004, durante a Assembleia Geral da ONU, realizou-se uma reunião de Cúpula, que reuniu cerca de cem países, com a presença de algumas dezenas de Chefes de Estado e de Governo. Recordo-me, até hoje, da frase que escutei casualmente de um diplomata francês que, ao entrar no recinto da reunião, comentou com um colega: “o Brasil abraça o mundo”.
Obviamente, todo esse esforço teria pouco significado, não tivesse o Governo Lula retirado da pobreza extrema cerca de quarenta milhões de brasileiros, o que levou o Brasil a sair do Mapa Mundial da Fome da FAO. Essa verdadeira façanha, sem precedentes na história, fruto de uma vontade política e de uma capacidade de mobilização raramente vistas, teve lugar em plena democracia, sem violência ou conflito, o que fez de Lula um dos líderes mais admirados no mundo, independentemente do nível de desenvolvimento dos países e de inclinações ideológicas.
O combate à fome no Brasil e a campanha mundial já seriam razões suficientes para fazer com que Lula seja merecedor da honraria proposta por Pérez Esquivel, que hoje conta com perto de quinhentos mil apoiadores, incluindo as mais diversas personalidades da política, dos movimentos sociais, da cultura e das artes, assim como dos meios acadêmicos.
Mas a política de Lula teve outras dimensões igualmente importantes para a Paz na nossa região e no mundo. Seja por meio da integração da América do Sul, seja através de ações diretas em prol do diálogo e da conciliação, o ex-presidente contribuiu de forma decisiva para que os problemas internos e entre países fossem resolvidos pacificamente. Mais de uma vez, nações desenvolvidas e a mídia internacional reconheceram esse papel pacificador, ilustrado, entre outros, pela criação do Grupo de Amigos da Venezuela, que evitou uma guerra civil no nosso vizinho, e pela ação mediadora de Lula no conflito entre o Altiplano e a Media Luna na Bolívia.
O Brasil de Lula também exerceu esse papel em questões de alcance global. No Oriente Médio, o Brasil participou, a convite de Washington, da Conferência de Annapolis, que relançou o Mapa do Caminho para a paz entre Palestina e Israel, baseado no conceito de dois Estados independentes, vivendo lado a lado e em segurança. Juntamente com a Turquia, o Brasil participou da negociação da Declaração de Teerã, que foi precursora do acordo, anos depois firmado entre os Estados Unidos e mais cinco países com o Irã.
Todos esses fatos fazem que venha à mente, quando se fala de Lula para o Prêmio Nobel, a frase do Presidente Barack Obama: “Este é o cara”.
Celso Amorim, Ex-ministro das Relações Exteriores (2003-2010, governo Lula) e da Defesa (2011-2015, governo Dilma), preside o Comitê de Solidariedade Internacional em defesa de Lula e da Democracia no Brasil.
Clique aqui para lera a matéria em espanhol, no site do jornal Página 12.