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Fome Zero inspira livro sobre segurança alimentar


Fome Zero inspira livro sobre segurança alimentar

Quando a parcela de brasileiros com insegurança alimentar bateu na casa dos 55% pela primeira vez, em abril de 2021, a indignação se apossou da dupla Camilo Vannuchi e Simone de Camargo. Duas questões se impunham: “Como o Brasil pôde voltar à estaca zero depois de ter saído do mapa da fome da ONU?”, indagavam. E ainda: “O que vai ser preciso fazer na próxima temporada de enfrentamento da fome caso o ex-presidente Lula volte ao governo”? 

Em poucos meses, essas e outras questões entraram em ebulição e começaram a ganhar a forma de um livro. As notícias ruins se sucediam: Uma criança busca comida num lixão e encontra os escombros de uma árvore de Natal. Uma mulher é presa por tentar furtar dois pacotes de Miojo e um saquinho de Tang. Pessoas em situação de rua fazem fila para apanhar ossos bovinos doados por um açougue do Rio. Um mercado decide vender pele de frango. Padre Júlio é ameaçado por reivindicar abrigo e alimento para as pessoas marginalizadas. Bolsonaro libera mais uma centena de agrotóxicos. 

Logo novas estatísticas revelaram uma situação ainda mais drástica. Agora, os famintos somavam cerca de 33 milhões de pessoas, ou 15% da população, algo inaceitável. O enfrentamento da fome precisaria vir a galope. E não bastaria repetir a cartilha de vinte anos antes. Desde 2001, o brasileiro aprendeu algumas coisas: que ingerir veneno faz mal para a saúde, que o agronegócio produz soja para exportação enquanto os empreendimentos de agricultura familiar é que põem comida na mesa dos brasileiros, que alimentos agroecológicos são mais saudáveis do que os convencionais e que as merendas das escolas não podem custar apenas 38 centavos por aluno. 

Esses e outros aspectos são discutidos no capítulo “Fome zero, dois ponto zero” no novo livro de Camilo Vannuchi e Simone de Camargo. Nele, três protagonistas desta história — José Graziano, Frei Betto e José Alberto de Camargo — conversam com Camilo. Em seguida, o livro traz uma reportagem feita por Dorian Vaz e João Paulo Guimarães em Guaribas, no Piauí, um dos municípios maios pobres do Brasil, o que o habilitou para receber o projeto piloto do Programa Fome Zero, já em 2003. Algumas das políticas ali implementadas deixaram frutos que permanecem até hoje. 

Com duas capas e dois títulos — de um lado, “Fome”; do outro, “A Terra é plena” —, o livro foi impresso em papel couchê em grande formato (26 x 21 cm). Na primeira parte, o diagnóstico da maior das violências é acompanhado por gráficos e fotografias em preto e branco. Na segunda, colorida, exibem-se propostas de soluções, sempre aliadas a uma agricultura ancestral, regenerativa, agroecológica e agroflorestal. 

Simone é filha de José Alberto de Camargo, que era conselheiro do Instituto Cidadania em 2001 e dividiu com Lula a coordenação executiva do Projeto Fome Zero. Mais tarde, em 2003, ele seria nomeado presidente do Instituto. Camilo, por sua vez, é filho de Paulo Vannuchi, um dos coordenadores do Instituto Cidadania na época, e, mais tarde, ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Cada qual à sua maneira, ambos acompanharam os bastidores daquela elaboração, entre 2000 e 2001. 

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