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Evento resgata legado de Lula nas relações Brasil-África

Promovido pelo Instituto Lula, “Diálogos África-Brasil: Legados e Desconstruções” alertou para a ameaça de destruição das conquistas do movimento negro


Evento resgata legado de Lula nas relações Brasil-África

“Diálogos África-Brasil” foi realizado no espaço Tapera Taperá, em São Paulo / Foto: Instituto Lula

Na última sexta-feira (11), o Instituto Lula promoveu o debate “Diálogos África-Brasil: Legados e Desconstruções a partir das Políticas de Relações Internacionais”, em São Paulo. Celso Marcondes, conselheiro do Instituto Lula e ex-diretor da Iniciativa África, abriu as falas dedicando o evento à memória de Marielle Franco e aos negros encarcerados injustamente no Brasil. Marcondes pontuou que, no momento político que o país vive, discutir África “é um ato de resistência”. Disse, ainda, que a iniciativa remonta aos princípios fundadores do Instituto Lula, que tem como uma de suas missões compartilhar com os países africanos experiências bem sucedidas em programas sociais e políticas públicas.

Marcondes lembrou que o Brasil é um país construído essencialmente por africanos sequestrados e escravizados na época colonial. “Investimos na África porque a África é aqui”, resumiu Matilde Ribeiro, uma das convidadas. Ela foi ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial durante os governos Lula e hoje é professora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, criada pelo ex-presidente e sob ameaça de sucateamento pelo governo Bolsonaro. Matilde destacou que por séculos o Brasil negou sua “identidade preta”, sem reconhecer e valorizar sua ancestralidade africana. Segundo ela, as mazelas decorrentes desse apagamento da história só serão revertidas quando as relações com o continente vizinho forem reconhecidas.

Um passo importante para começar a alterar essa lógica foi dado com a eleição de Lula. Acácio Almeida, pró-reitor de Políticas Afirmativas da Universidade Federal do ABC — também criada por Lula — lembra que o ex-presidente se preocupou em construir um governo comprometido com as demandas do movimento negro. Também com Lula, a política internacional brasileira ganhou novos contornos. Baseada no diálogo, a relação Sul-Sul avançou de forma importante como construção coletiva e conjunta, negando uma ideia prevalente até então de hierarquia entre os países. Segundo Almeida, é contra essa compreensão do mundo que o governo federal atua hoje. E Matilde completou, afirmando que hoje, no que diz respeito às relações internacionais, o “complexo de vira-lata” voltou a imperar, com um Brasil submisso aos interesses estadunidenses. 

Com saudade do Brasil de anos atrás, Matilde resgatou histórias que viveu ao lado de Lula em algumas das visitas que o ex-presidente fez à África — foram 33 viagens presidenciais ao continente, com a criação de 19 novas embaixadas. Ela destacou a visita ao Senegal, em 2005, quando Lula pediu perdão aos africanos pelo que o Brasil fez com os filhos e netos de seu continente. 

Depois da intervenção dos convidados, a diretora do Instituto Lula, Tamires Sampaio, lembrou em sua fala que o racismo é ponto estruturante da sociedade brasileira. Segundo ela, o genocídio dos negros, em curso no Brasil, não se manifesta apenas pelo extermínio, mas também pela negação do acesso às políticas públicas por essa população. Trata-se de uma política de Estado que escolhe quem pode viver e quem deve morrer.

Diante de um governo de destruição, a resistência é o único caminho, concluíram os presentes. Celso Marcondes destacou que o Instituto Lula segue como um espaço de denúncia dos retrocessos e defesa do legado do ex-presidente, que no cenário atual se faz mais urgente do que nunca. 

O evento foi parte do encontro internacional “Áfricas contemporâneas. Do continente às diásporas: pensar o universal a partir dos arquivos afro-diaspóricos”, que acontece em São Paulo até o dia 19 de outubro. Confira aqui a programação. 

Confira a íntegra do evento: 


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