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Bolsonarismo vai além do gabinete do ódio

Antropóloga participou de aula no Instituto Lula sobre a renovação do bolsonarismo


Bolsonarismo vai além do gabinete do ódio

Antropóloga participou de aula no Instituto Lula sobre a renovação do bolsonarismo

“Há uma ideia que todo o problema do bolsonarismo estaria na sua política de fake news. Ainda que seja realmente gravíssimo, não dá para atribuir ao gabinete do ódio toda a preocupação e pensar que isso vai definir toda eleição”, afirma Rosana Pinheiro-Machado, antropóloga e professora do Departamento de Ciência Política e Sociais da Universidade de Bath, no Reino Unido. Segundo a pesquisadora, o problema também está na sedução ideológica de novos atores políticos, que hoje se dá de forma diferente das últimas eleições — por isso ela fala em “renovação do bolsonarismo”.

Esse processo de aliciamento acontece sobretudo no meio digital. Pinheiro-Machado explica: o “núcleo duro” do bolsonarismo é formado por trabalhadores precarizados, que pioraram de vida durante a pandemia e precisaram recorrer às plataformas para ganhar dinheiro. Nesse processo de buscar saídas para suas questões financeiras, milhões de brasileiros entraram em contato com influenciadores digitais da área do marketing digital e investimentos — meios destacadamente conservadores. 

Dentro dessas comunidades (muitas delas alinhadas com o discurso da extrema-direita), são vendidas ilusões e promessas de prosperidade que encantam e recrutam novos atores para o campo bolsonarista. “A esquerda não está conseguindo avançar no campo da disputa digital”, pondera a pesquisadora, que lembra que o domínio da infraestrutura política digital está nas mãos da extrema direita.

Voltando às fake news, Pinheiro-Machado afirma que elas cumprem hoje um papel distinto do que observado em anos anteriores: “Temos bastante evidências acadêmicas que as pessoas já sabem como verificar fake news e desinformação, mas sabemos também que as fake news são usadas para reafirmar e validar o que as pessoas já acreditam e crenças de identidade”. 

Pinheiro-Machado acaba de receber financiamento do European Research Council para seguir com as suas pesquisas sobre a extrema direita e a compreensão de como o novo populismo autoritário engaja o trabalhador precarizado. Ela lembra que esse fenômeno da militância de direita formada por trabalhadores precarizados acontece em várias partes do mundo. No Brasil, são chamados de “uberminion” pela pesquisadora. A pesquisa contemplada pela ERC chama "Trabalho flexível, política rígida: o nexo entre trabalho precário e política autoritária no Brasil, na Índia, nas Filipinas.

Esses pontos de análises foram abordados por Rosana Pinheiro-Machado nesta quinta-feira (18) na primeira aula do novo curso gratuito oferecido pelo Instituto Lula, “Desafios políticos na era digital ”. A aula inaugural foi feita por meio de uma live aberta sobre “A renovação do bolsonarismo” e contou com a participação de Tatiana Roque, coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro e organizadora do curso; e Marcio Pochmann, presidente do Instituto Lula. 

Assista no vídeo abaixo:


As próximas aulas organizadas por Roque serão na plataforma Google Clasroom apenas para inscritos. Você ainda pode se inscrever no curso neste link até sexta-feira (25/03).

Aproveite e confira aqui outros cursos do Instituto Lula que estão com inscrições abertas.

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