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Amorim lança livro sobre relações com América do Sul

Ministro das Relações Exteriores de Lula foi o convidado do Grupo de Acompanhamento de Temas Estratégicos para falar sobre seu novo livro


Amorim lança livro sobre relações com América do Sul

Oito anos como ministro das Relações Exteriores do governo Luiz Inácio Lula da Silva renderam ao chanceler Celso Amorim uma visão privilegiada sobre a nova forma de o Brasil se relacionar com os países do mundo todo. A América do Sul, no entanto, mais que prioridade, era uma obsessão, diz ele. E isso pode ser conferido em seu novo livro Laços de Confiança, lançado em julho, pela editora Benvirá.

Amorim foi o convidado do Grupo de Acompanhamento de Temas Estratégicos, o Gate do Instituto Lula, para falar sobre essa obra, sua trajetória nos governos petistas e seu ponto de vista sobre a atual conjuntura internacional.

“O Instituto Lula é guardião da memória do legado da experiência exitosa dos mandatos do presidente Lula entre 2003 e 2010”, lembrou Márcio Pochmann, presidente do IL, falando da “honra e satisfação” de poder contar com o depoimento de Amorim. “Esse é um livro muito esperado na medida em que a questão internacional está extremamente complexa. E com a formação de governos progressistas que se instalam democraticamente na nossa região.”

O livro de mais de 600 páginas, relata Amorim, aborda os oito anos de relacionamento bilateral do Brasil com países sul-americanos e o Caribe. “E correspondia a uma necessidade”, afirma. Em outras três obras do autor – Conversas com Jovens Diplomatas; Breve Narrativas Diplomáticas; Teerã, Ramalá e Doha –, a América Latina aparece muitas vezes. “Mas sobretudo nosso projeto de integração e como ele se desenrolou. E muito pouco a relação bilateral com cada um desses países.”

Notas e reflexões

Segundo o chanceler, o livro é uma espécie de diário intermitente voltado às relações do Brasil com a América do Sul, um testemunho direto das relações dele com lideranças da região. “Tinha tomado muita nota ao longo dos meus anos como ministro do governo Lula. Por exemplo, o presidente Lula me mandou à Bolívia para tratar com Evo Morales a questão das refinarias. Enfim, tinha muita nota pessoal sobre minhas reflexões e achei que isso daria a base de um livro.”

As notas, conta ele, começaram ainda no governo Itamar Franco, quando também foi ministro e seguem durante o governo Dilma Rousseff quando Amorim esteve à frente da pasta da Defesa. “O tema da integração sul-americana perpassa o livro todo. Mas há temas muito presentes como a discussão da reforma do Conselho de Segurança (da ONU), a Organização Mundial do Comércio, mas sempre a ótica é do país.”

Por que Laços de Confiança? “É uma expressão que surge em uma das minhas anotações, que caracterizava as relações do Brasil com os governos dos países da América do Sul.”

Mercado mais importante e região de paz

Foi diante  da indagação de Adhemar Mineiro, economista e pesquisador do Gate, a respeito da prioridade da América do Sul para o Brasil durante o governo Lula, que Amorim ressaltou: mais que prioridade era uma obsessão. “Uma preocupação permanente porque as forças centrífugas são muito mais poderosas”, disse o chanceler. “Tem a tendência natural de cada país procurar se relacionar com países mais poderosos para tentar obter vantagens individuais. E com isso todos coletivamente se debilitam”, afirmou, lamentando essa atual condição na região.

A América do Sul, ao final do governo Lula, tinha se tornado um mercado mais importante em termos globais, lembrou o ex-ministro, explicando que cita o comércio porque é mais fácil de ilustrar, em termos numéricos. “E também a criação de uma região de paz, com capacidade de atuação no mundo. Fizemos atos de integração física e econômica entre os países, inclusive Guiana e Suriname. Se conseguimos plenamente não sei dizer, mas acho que houve um avanço muito grande da América do Sul como um mercado de grande importância. Lamento muito que nos governos que nos sucederam tenha havido um desmonte da Unasul e no governo Bolsonaro a saída mesmo do Brasil. Mas essas são tarefas para um próximo governo recriar. Do ponto de vista jurídico será fácil porque essa saída é de legalidade discutível.” 

Lamentável descoordenação

Se a integração demora mais para acontecer, observou Adhemar Mineiro, a coordenação política é muito importante e nesses oito anos do governo Lula era interessante ver que o países da América do Sul atuavam em conjunto e isso dava a eles muito mais força. “Nesse momento os países não têm sequer se articulado para atuar em fóruns internacionais”, disse o economista sobre o que classificou de “total descoordenação”.

Amorim lembrou que na parte política era particularmente difícil essa coordenação e também na área econômica. “Apesar disso houve, sobretudo no que chamamos de G20 comercial. Os países adotaram posições comuns em relação a temas cruciais. Os do Mercosul eram mais coesos.”

Amorim qualifica esse processo como complexo. “Mas é possível fazer uma posição comum, até porque ela tem tanta força moral que muitas vezes países que estão indecisos acompanham”, disse, mencionando a atuação do Brasil na questão de patentes na área da saúde. “O Brasil liderou o grupo de países em desenvolvimento quando eu era embaixador em Genebra. No governo Bolsonaro o Brasil passou a ter atuação oposta e a defender os interesses dos laboratórios estrangeiros.”

Amorim finaliza ressaltando que a política internacional é um jogo de alianças variáveis, de geometria variável. “Às vezes você está aliado com um, às vezes com outro. O que nós queríamos consolidar é uma aliança forte dentro do Mercosul pelo menos, e espalhá-la pela América do Sul para com isso melhorar o conjunto da posição dos países em desenvolvimento.” 

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