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Boletim debate desigualdades na aprendizagem do EaD

IL promoveu debate do grupo front-D para apresentar o boletim online “Tecnologias digitais no ensino superior: desafios de uma sociedade desigual”


Boletim debate desigualdades na aprendizagem do EaD

Divulgação

Democratizar ensino superior de qualidade exige colocar tecnologias em outra lógica que não a mercantil, defende o grupo front-D do Instituto Lula

Quais são os desafios de uma sociedade tão desigual, como a brasileira, no uso das tecnologias digitais no ensino superior, notadamente no ensino à distância (EaD)? Este é o centro do debate realizado nesta quarta-feira (21), pelo grupo de pesquisa Fronteira Digital, o front-D, do Instituto Lula. A mesa redonda também apresentou o boletim online “Tecnologias digitais no ensino superior: desafios de uma sociedade desigual” . O debate foi mediado pelo economista e matemático Pietro Borsari. Como convidados, a professora e pesquisadora Andrea L. Harada Sousa e o sociólogo e professor Gabriel Teixeira.


Leia o boletim


O que foi falado na mesa redonda

Para  Borsari, é necessário pensar de forma indissociável a relação entre as tecnologias digitais e as desigualdades econômicas e sociais que permeiam a sociedade brasileira. “Por exemplo, nem todo mundo tem acesso à internet. E quando tem, há desafios na qualidade do acesso, o tipo de dispositivo”, afirma o economista, lembrando que grande parte das pessoas têm somente o celular para acessar a web. “Essas desigualdades interferem no processo de aprendizagem.”

E ainda mais grave: “as desigualdades no acesso à renda, no mercado de trabalho, nas condições de moradia e infraestrutura, as desigualdades de gênero, podem ser acentuadas caso o fomento ao ensino superior EaD não seja acompanhado do enfrentamento a essas velhas desigualdades estruturais do país”.

Impacto lesivo

Para popularizar e democratizar o ensino superior de qualidade é necessário colocar as tecnologias em outra lógica que não a mercantil, que só se preocupa em prestar contas a acionistas e proprietários.

A professora Andrea Harada lembra que quase 80% das matrículas estão no ensino privado. “Uma via desse crescimento tem a ver com os programas de subsídio que inflou essas universidades privadas. Funcionando desse jeito elas acabam ditando as regras e é nesse contexto que o EaD aparece.”

Harada comenta situações de faculdades que estão localizadas junto a igrejas e até quiosques de shopping. “O modo como isso acontece expõe uma contradição. O local não suporta sequer a placa, mas oferece 100 cursos. Isso tem um impacto danoso, lesivo e letal para os docentes.”

Exploração

O professor e sociólogo Gabriel Teixeira falou sobre as estratégias laborais das instituições que operam no ensino à distância. “Comum haver demissões em massa todo ano e recontratação de professores num número cada vez mais reduzido”, disse, lembrando que trabalhou com 300 professores em São Paulo que atendiam via EaD 300 mil alunos no Brasil inteiro. Portarias editadas pelo governo Jair Bolsonaro permitiram o aumento do número de alunos por professor e economia da ordem de 40% no capital dos donos das escolas. 

“Não dá para se conceber um percurso formativo onde esses alunos e alunas sejam avaliados mais de uma vez no semestre”, critica, relatando que no fechamento desse período os professores tinham pelo menos 20 mil trabalhos para corrigir. “Queremos uma educação superior onde um professor leciona para 20 mil alunos e mal tem condições de acompanhá-lo?”, questiona, cobrando discussão importante sobre a regulação da área afetada gravemente após medidas adotados pelos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro. 

Sobre o front-D

O projeto do Instituto Lula chamado "Novas e velhas desigualdades na era digital no Brasil da terceira década do século 21" conta com o núcleo de pesquisa front-D, dedicado ao mapeamento da fronteira digital, ou seja, o grupo investiga como a tecnologia impacta o cotidiano das pessoas na cidade, na cultura, na saúde, na economia, nas dinâmicas de trabalho e na organização política. O front-D produziu uma série de boletins online apresentando os resultados das pesquisas.

O núcleo publica dois boletins para cada um dos seguintes temas

1. Políticas de cuidado

2. Vida nas cidades

3. Cultura na era digital

4. Pequenos agricultores e plataformas digitais

5. Nova cartografia digital

6. Financeirização e tecnologias digitais no ensino superior

Nos links abaixo, leia e baixe todos os boletins publicados pelo front-D.

Parte 1

1 - O cuidado na agenda política, o cuidado em disputa

2 - Cidades Inteligentes: soluções e desafios para cidades menos desiguais

3 - Cultura e Tecnologia no Brasil recente

4 - Quando os agricultores são impulsionados pela internet na China

5 - A Amazônia entre a terra e as techs nas novas fronteiras digitais

6 - Economia política das tecnologias digitais no Ensino Superior

Parte 2

1 - O cuidado na era digital

2 - Monitorando a Cidade Inteligente: câmeras de vigilância, monitoramento inteligentee racismo tecnológico

3 - Tecnologias Digitais, Cultura e Pandemia: fronteiras e desigualdades

4 - O estudo de caso das Vilas Taobao

5. O ambiente entre as tecnologias digitais acionadas por governo e sociedade

6 - Tecnologias digitais no ensino superior: desafios de uma sociedade desigual

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