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Entre injustiças e fake news, Marisa Letícia faria 70 anos


Entre injustiças e fake news, Marisa Letícia faria 70 anos

Foto: Ricardo Stuckert

Marisa Letícia Lula da Silva nasceu em um 7 de abril como hoje. Se estivesse viva, completaria 70 anos em 2020. 

Após uma vida de lutas, nem a morte deu descanso à ex-primeira-dama. Dona Marisa segue sendo vítima de injustiças e fake news. 

Leia abaixo a coluna de Camilo Vannuchi em sua homenagem, publicada na Carta Capital nesta terça-feira.

Há quem diga que a ex-primeira-dama não morreu. Fugiu para a Itália, onde esperaria a chegada do marido dias depois. Talvez esteja à espera dele até hoje, acompanhando à distância as notícias sobre o provável casamento do ex-presidente com Janja, a nova namorada.

Talvez seja tudo uma enorme tramoia. Não tem namoro nenhum. Nem Janja. Nem morte. O Lula em quarentena por aqui talvez nem seja o Lula, mas um sósia. Lula e Dona Marisa estão juntos, curtindo o isolamento num resort em Dubai. Vai saber.

Se estivesse viva, Marisa completaria 70 anos neste 7 de abril. Haveria festa em São Bernardo do Campo (SP), onde ela nasceu, em 1950, a décima criança num time de onze, filha de um casal de pequenos agricultores. 

Foi em São Bernardo que Marisa começou a trabalhar, aos 9 anos, como babá. Aos 13, arrumou emprego como operária na Dulcora, onde embalava bombons. Deixou a fábrica quando ficou grávida, aos 19, pouco depois de se casar. Estava no quarto mês de gestação quando o marido foi morto a tiros, dirigindo um táxi.

Foi também em São Bernardo que Marisa conheceu Lula, ambos viúvos, em 1973. De lá, mudou-se apenas no final de 2002, para o Palácio da Alvorada.

Neste aniversário, talvez os Silva estivessem todos no Los Fubangos, o sítio à beira da Represa Billings comprado pelo casal há quase 40 anos. Marisa passaria a manhã pescando enquanto o marido cuidaria do feijão e do coelho à caçadora, os netos correndo de um lado para outro.

Desta vez, não vai ter coelho nem pescaria, e não só em razão da Covid-19. Marisa morreu em 3 de fevereiro de 2017, em decorrência de um acidente vascular cerebral. Portadora de um aneurisma cerebral, diagnosticado dez anos antes, deveria evitar cigarros, bebidas alcoólicas e estresse, uma missão incompatível com o lugar social que ocupava havia mais de um ano: ré na Lava Jato, com a família permanentemente vigiada – e muitas vezes caluniada – pelo judiciário, pela imprensa e por detratores.

A operação de busca e apreensão em sua casa e nas casas dos filhos, quando policiais apreenderam os tablets dos netos e cortaram seu colchão em busca de algo que os incriminasse, foi a gota d’água. Resultou no isolamento social de Marisa, muito antes do coronavírus.

Três anos após sua morte, Marisa continua alvo de uma perseguição injustificável. Por ocasião do lançamento do livro “Marisa Letícia Lula da Silva” (Alameda Editorial), em fevereiro, algumas reações foram surpreendentes. “Você tem certeza que ela morreu?”, perguntou uma internauta, afirmando que o caixão estava lacrado no velório, o que pode ser desmentido conferindo as imagens, exibidas em diversos sites e jornais. “O livro ensina a ficar milionária vendendo Avon?”, provocou outro internauta. Marisa nunca trabalhou como vendedora, tampouco ficou milionária. Os valores que constam em seu espólio têm origem nas palestras de Lula, com quem Marisa era casada em comunhão de bens.

A propósito, decisão recente do TRF-4 de manter bloqueados os bens da ex-primeira-dama, sob suspeitas já refutadas pela Polícia Federal, ajuda a alimentar o discurso de ódio que contribuiu para abreviar sua vida e atiça a usina de mentiras que opera, sem quarentena, no WhatsApp e nas redes. A justiça tarda e, muitas vezes, falha.

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