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Há 36 anos: Mar de gente no Anhangabaú clama por diretas


Há 36 anos: Mar de gente no Anhangabaú clama por diretas

Foto: Vera Jursys / Acervo CSBH/FPA

Por Fundação Perseu Abramo

Há 36 anos, no dia 16 de abril de 1984, um ato marcou o que seria um clamor pelo fim do regime militar no Brasil. Um milhão e meio de pessoas ocuparam o Vale do Anhangabaú no centro de São Paulo para o comício de encerramento das Diretas Já, um movimento de massas sem precedentes, pedir a volta das eleições diretas para presidente e o encerramento da ditadura.

registro do fotógrafo Jorge Beraldo, arquivado no Centro Sérgio Buarque de Holanda dá uma dimensão do mar de gente e da grandeza deste ato que marcou a história.

A ditadura militar já durava 20 anos quando milhões de pessoas em todo o Brasil foram às ruas em 1984. O povo brasileiro já deixara patente seu repúdio à ditadura nas eleições de 1974, quando impôs uma espetacular derrota ao partido oficial, a Arena, votando maciçamente no único partido de oposição permitido, o MDB. Já forçara a “abertura lenta, gradual e segura” com a campanha da anistia, que resultou na lei de 1979.

Em 1982, nas primeiras eleições diretas para governador, a oposição ganhara em dez Estados – e nos mais populosos. Com as grandes manifestações de 1984, na maior campanha cívica já ocorrida no país, as Diretas-Já, o povo brasileiro cobrou o imediato fim do regime militar e o direito de escolher logo seu maior governante.

No dia seguinte, 27 de novembro, realizou-se o primeiro comício unificado das Diretas-Já, em frente ao Estádio do Pacaembu, em São Paulo, com participação do PMDB, do PT e do PDT, da UNE, da CUT, da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat) e da Comissão de Justiça e Paz (CJP) da Arquidiocese de São Paulo. Inicialmente, o comício havia sido convocado apenas pelo PT. Um milhão de folhetos foram distribuídos com as palavras de ordem que contentavam todos os organizadores: “Por eleições livres e diretas para presidente da República. Contra o arrocho e o desemprego. Fora o FMI. Contra a agressão dos Estados Unidos aos povos da América Latina”. Quinze mil pessoas compareceram ao comício, dando a largada para a campanha que tomaria conta do Brasil nos meses seguintes. Naquela noite, por coincidência, morreu o senador Teotônio Vilela, um dos grandes nomes da resistência democrática.

Nas semanas seguintes, várias cidades foram palcos de comícios de médio porte até que, em 12 de janeiro de 1984, o comício de Curitiba reuniu mais de 50 mil pessoas, abrindo a temporada das grandes manifestações. Elas dariam um salto no dia 25 de janeiro, quando uma multidão de mais de 300 mil pessoas lotou a Praça da Sé, no centro de São Paulo.

A partir desta data os comícios pipocaram em diferentes capitais e grandes cidades do país: João Pessoa, Maceió, Belém, Rio de Janeiro, Cuiabá, Rio Branco, Manaus, entre outras. Alguns foram maiores, outros menores, mas o clima geral era de franca e generalizada mobilização. Novo recorde de participação foi alcançado em 24 de fevereiro, no comício de Belo Horizonte, que reuniu mais dequatrocentas mil pessoas, sob o comando do governador Tancredo Neves.

A votação da emenda foi marcada para o dia 25 de abril e os comícios, ganhando dinâmica própria, alastraram-se por todo o país. Os líderes maiores – Ulysses, Lula, Brizola e os governadores – já não conseguiam estar presentes em todos os eventos, que se sucediam em cidades como Florianópolis, Porto Alegre, Goiânia, Londrina, Natal, Petrolina, Uberlândia. Em alguns Estados, foram marcados comícios simultaneamente em várias cidades.

Mesmo com toda mobilização e clamor popular, a emenda não foi aprovada, a eleição indireta de Tancredo Neves ocorreu em 1985, marcando o fim da ditadura militar iniciada em 1964. E os brasileiros só teriam o direito de votar garantido em 1989.

Veja também o Dossiê HISTÓRIA, MEMÓRIA E POLÍTICA da Fundação Perseu Abramo que reúne textos com o tema “Anistia e Diretas – Ditadura e Democracia”.

Este texto é um trabalho do Memorial da Democracia, o museu virtual das lutas democráticas do povo brasileiro, mantido pela Fundação Perseu Abramo e pelo Instituto Lula.

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