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Indígenas precisam do governo para segurança digital

O grupo de pesquisa front-D promoveu uma mesa redonda para debater o boletim online “O ambiente entre as tecnologias digitais acionadas por governo e sociedade".


 Indígenas precisam do governo para segurança digital

Reprodução

O grupo de pesquisa Fronteira Digital, o front-D, promoveu na terça-feira (21) uma mesa redonda para debater o boletim online “O ambiente entre as tecnologias digitais acionadas por governo e sociedade". Afinal, a busca pelo aumento da celeridade e da simplificação dos processos de controle ambiental não pode ignorar a necessidade de redução dos riscos de automatização desses processos. E também, da garantia de qualidade e efetividade da proteção, conservação e sustentabilidade na implantação de qualquer empreendimento que mexa com o meio ambiente.

Para debater o tema, os pesquisadores do Instituto Lula Brenda Takeda, Elielson Silva e Selma Solange Monteiro Santos receberam a mestra em comunicação Thiane Neves Barros e a doutora em sociologia política Ana Carolina Alfinito.

Assista ao vídeo abaixo



Leia o boletim


Sobre a  mesa redonda

Thiane Neves Barros começou sua apresentação descrevendo a imagem que estava na tela, numa forma importante de situar as pessoas com deficiência visual. Pesquisadora e observadora participante da Comunicação na Amazônia, questionou quanto as pessoas estão cientes da heterogeneidade e dimensão do território. “Participo de congressos que situam a Amazônia com a terra que está muito longe. Somos na memória brasileira o inacessível. Uma forma de nos colocar à margem do Brasil”, disse.

“A Amazônia e o nordeste têm a pior infraestrutura de internet e a menor quantidade de fibra óptica. Pensar a apropriação e o uso desta tecnologia não é algo intuitivo. As pessoas precisam ser aproximadas destas facilidades digitais. O boletim do front-D apresenta novas e velhas desigualdades e o projeto apresenta vantagens e desvantagens tecnológicas. Isso é um ponto positivo”, disse Thiane.

Ana Alfinito pondera que dentro do campo do direito indigenista e da demarcação de terras, os povos originários convivem com o tema da tecnologia. “Pensar em tecnologia digital não é apenas pensar em aparelhos. É pensar sobre desigualdades estruturais e criação de subjetividades”, disse. “Há muitas tecnologias milenares e ancestrais com os povos originários. Mas não estamos tratando disso. A tecnologia fetiche do mundo capitalista é muitas vezes imposta aos povos originários como destino de estarmos super conectados e mapeados. Quem não pode ter esse acesso tecnológico fica marginalizado.”

Ana conta ainda que além de tudo há o preconceito e barreiras simbólicas com os povos indígenas. Os conservadores dizem que indígena que usa celular não é indígena. “Esse atual governo federal diz que indígena bom para o país usa maquinário pesado e planta soja”, reflete. 


Excluídos e cuidados digitais

Em sua experiência no Xingu, Ana contou como fez para dar acesso à internet para três militantes da região. No mesmo dia, Elon Musk se encontrava com o presidente Jair Bolsonaro prometendo dar acesso à internet. “É muito ambíguo. O ativista também pode ser monitorado. É preciso ter cuidados”, conta.

Ela explica que a fiscalização territorial mudou com o acesso ao GPS. Depois do abandono das terras indígenas pelo atual governo, o celular, GPS e banco de dados foram fundamentais para formar guardas locais para fiscalizar os territórios. No entanto, é necessário respaldo da sociedade e do governo. “Os povos indígenas dificilmente podem coibir ameaças. Eles precisam do governo. Quando eles fazem denuncias de desmatamento, extração ilegal de madeira, garimpo dentro de território preservado e o estado não responde, o risco para essas pessoas triplica. Nesse processo, quem está infringindo a lei sai fortalecido.”

Elielson Silva perguntou para as convidadas como se dá a intersecção do trabalho do agronegócio e as big techs na Amazônia. 

Thiane respondeu que as empresas de mineração e as big techs dialogam para perpetuar modelos da mesma forma criminosa com interesse militar e do capital. Os povos originários e os ativistas da preservação do meio ambiente é que estão fora da apropriação sustentável da tecnologia.

"Quando o indigenista e o jornalista ficaram desaparecidos, a Amazônia aparece nas hastags. Mas desta forma. Quais são as vidas que o governo está preocupado? Quando as queimadas ficaram visíveis em São Paulo, todo mundo ficou preocupado. Por que os 10 quilômetros de queimadas na Amazônia não impacta a vida das pessoas? Não é bizarro? A gente ainda não tem mapeado os dados necessários pra ter a dimensão do problema", disse Thiane.

“Me choca que muitos projetos são mapeamento de territórios mercadológicos muito antigos e autoritários. A Microsoft e a Amazon estão entrando no agronegócio e vão coletar dados sobre solo, clima e produtividade e,  provavelmente, vão reforçar estruturas desiguais”, disse Ana.

Sobre o front-D

O projeto do Instituto Lula chamado "Novas e velhas desigualdades na era digital no Brasil da terceira década do século 21" conta com o núcleo de pesquisa front-D, dedicado ao mapeamento da fronteira digital, ou seja, o grupo investiga como a tecnologia impacta o cotidiano das pessoas na cidade, na cultura, na saúde, na economia, nas dinâmicas de trabalho e na organização política. O front-D produziu uma série de boletins online apresentando os resultados das pesquisas.

O núcleo publica dois boletins para cada um dos seguintes temas

1. Políticas de cuidado

2. Vida nas cidades

3. Cultura na era digital

4. Pequenos agricultores e plataformas digitais

5. Nova cartografia digital

6. Financeirização e tecnologias digitais no ensino superior

Nos links abaixo, leia e baixe todos os boletins publicados pelo front-D.

Parte 1

1 - O cuidado na agenda política, o cuidado em disputa

2 - Cidades Inteligentes: soluções e desafios para cidades menos desiguais

3 - Cultura e Tecnologia no Brasil recente

4 - Quando os agricultores são impulsionados pela internet na China

5 - A Amazônia entre a terra e as techs nas novas fronteiras digitais

6 - Economia política das tecnologias digitais no Ensino Superior

Parte 2

1 - O cuidado na era digital

2 - Monitorando a Cidade Inteligente: câmeras de vigilância, monitoramento inteligente racismo tecnológico

3 - Tecnologias Digitais, Cultura e Pandemia: fronteiras e desigualdades

4 - O estudo de caso das Vilas Taobao

5. O ambiente entre as tecnologias digitais acionadas por governo e sociedade

6 - Tecnologias digitais no ensino superior: desafios de uma sociedade desigual

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