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Lula explica importância das caravanas

Durante coletiva no ônibus da Caravana #LulaPorMinasGerais o ex-presidente explicou como as caravanas ajudam a construir políticas públicas


Lula explica importância das caravanas

Em uma entrevista coletiva concedida dentro de um ônibus que fazia o trajeto da caravana #LulaPorMinasGerais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva contou para que serve a experiência das caravanas. Lula confessou que, depois de perder as eleições de 1989, descobriu que nenhum candidato conhecia efetivamente o Brasil, quando muito conhecia capitais e aeroportos. Daí surgiu a tradição de fazer caravanas para entender o país, ouvir as pessoas, conhecer a situação das políticas públicas que deram certo ou errado.

Ao lado da senadora Gleisi Hoffmann, o ex-presidente falou sobre as surpresas boas e más que encontrou nesta viagem por Minas Gerais.


Acompanhe a transcrição da fala completa sobre as caravanas:

"Eu só vou dar uma explicação de onde nasce a ideia das caravanas. Disputei as eleições em 1989, e depois que elas terminaram, descobri que nenhum candidato que disputa as eleições para presidente conhece o Brasil. Ou seja, o cara conhece por literatura, por notícia de jornal ou numa campanha, em que você pega um avião onde mora e desce numa outra capital, num aeroporto, pega um carro, vai para o palanque, faz um discurso, sem nem conhecer as pessoas que estão no palco. Então volta, pega avião e vai para outra cidade. Você termina não tendo noção dos problemas, da cultura, das desigualdades e de como vive cada pessoa em cada região. A partir de 1992, resolvi tomar atitude de viajar o Brasil para conhecer um pouco de suas entranhas, sua alma, a megadiversidade cultural que nós temos. Ou seja, são vários “Brasis” dentro desse 8,5 milhões de quilômetros quadrados que não se conhece.

A televisão brasileira não traz nenhum minuto da atividade cultural de outro estado. Só coisa de São Paulo e Rio que é mostrado no país inteiro, então os meninos e meninas de Roraima, do Amapá e de Manaus tem que conviver, seja sábado ou domingo, com Luciano Huck e com Faustão. Não tem nada deles na televisão. Ou seja, a diversidade brasileira não aparece nos meios de comunicação do Brasil e isso é gravíssimo.

Então, resolvi conhecer. Nós fizemos a primeira caravana. Repeti o trecho que eu fiz quando vim para São Paulo em 1952, com sete anos, de ônibus até São Paulo. Depois nós fizemos do Oiapoque ao Chuí. Fizemos toda a parte do Nordeste, quase que repetindo essa que nós fizemos agora. Também realizamos a do Sul, nós paramos em Dourado. Depois nós fizemos da Amazônia, sendo 15 dias de barco, e foi uma coisa muito interessante. E a partir daí, achei que a gente deveria revisitar o Brasil. Eu já tinha passado aqui no Vale do Jequitinhonha várias vezes. Uma vez, vim aqui visitar toda a região do Vale do Jequitinhonha, que tinha, em 1975, uma política de incentivar siderúrgicas, com 1 milhão e 250 mil hectares para plantar eucalipto para produzir carvão vegetal. Acontece que o carvão mineral ficou mais barato e ninguém queria fazer mais carvão de eucalipto. E eu vim aqui e produzimos uma proposta de como utilizar o eucalipto e entregamos ao governador Eduardo Azeredo.

Depois nós fizemos uma outra visita no Vale do Ribeira, região mais pobre em São Paulo, para fazer uma proposta de desenvolvimento e entregamos ao companheiro Mário Covas. E essa revisita que eu estou fazendo aqui é para a gente ver o que? Houve um avanço considerável nessa região, com a universidade, com as escolas técnicas, com o Pronaf, com o Luz para Todos. Eu queria ver se está parando os programas e eu tenho a decepção é que muita coisa está paralisando e diminuindo. Então, volta a consagrar o empobrecimento. As pessoas tinham subido um degrauzinho, e eles estão achando que tem que descer um degrau. Toda vez que o Estado faz cortes, eles recaem em cima do povo pobre, porque ele recai em cima de quem precisa do Estado. Isso é a coisa que eu mais fiquei preocupado nessa viagem.

Tem coisas que dá muito orgulho, mas chegar em Teófilo Otoni, que eu conheci a muito tempo atrás. Os IFETs (institutos federais tecnológicos) são uma marca profunda na alma da sociedade, vê um menino ou uma menina que tem um diploma...

Eu fiquei muito feliz com aquela visita naquela cooperativa de pequenos agricultores (Aspropen). Ou seja, vocês percebem que o Brasil pode dar certo com pouca coisa. E é isso que me anima e que me faz acreditar que o pobre ainda é a solução do Brasil. O pobre não é o problema. Quando você coloca ele dentro da economia, esse país dá um salto de qualidade e é isso que eu acredito.

Quando eu era presidente, dizia para os meus meninos da economia: cada vez que eles faziam apologia à macroeconomia, falava que ela só dá certo porque tenho microeconomia funcionando lá em baixo, que faz o pobre trabalhar, comprar e consumir mais. Aí é um conjunto de políticas públicas. A pessoa não tem noção do significado do aumento do salário mínimo e do que vale uma aposentadoria numa cidade pequena no interior. Então, o meu otimismo em relação ao Brasil é que ele pode dar certo na hora que tiver gente que conheça e goste do país e que queira fazer ele crescer. E, na minha opinião, o jeito mais extraordinário é colocar o pobre dentro da política econômica.

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