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Inteligência artificial esconde precarização do trabalho

Na sociedade altamente digitalizada que marca o momento em que vivemos, palavras e expressões como algoritmo, inteligência artificial e plataformas digitais são cada vez mais comuns em...


Inteligência artificial esconde precarização do trabalho

Na sociedade altamente digitalizada que marca o momento em que vivemos, palavras e expressões como algoritmo, inteligência artificial e plataformas digitais são cada vez mais comuns em nosso cotidiano e nos remetem sempre à ideia de um mundo automatizado, em que o trabalho humano será quase completamente substituído por softwares e robôs. Em aula ministrada no curso Economia e Sociedade Digital do Instituto Lula, Rafael Grohmann, professor da pós-graduação em comunicação da Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) Rio Grande do Sul, explica que esse pensamento está muito longe de ser verdadeiro. Ele lidera um grupo de pesquisa que mostra que empresas de tecnologia contratam milhares de pessoas para executar tarefas, que acreditamos serem feitas por sistemas de computador. Mesmo as ações que de fato são automatizadas, como softwares de reconhecimento facial, tiveram seus bancos de dados alimentados por seres humanos. “Coloquem no Google ‘Nazaré de óculos’ – uma personagem de novela que se tornou um grande meme de internet. ‘Como o Google sabe que a Nazaré usa óculos?’ Essa informação foi colocada lá por algum desses milhares de trabalhadores”, exemplifica Grohmann.

Grandes empresas como a Amazon empregam muita gente para executar tarefas difíceis de automatizar. Um bom exemplo é a Alexa, dispositivo que promete gerenciar funções domésticas a partir de comandos de voz. Para isso, é preciso que todos os possíveis comandos em todas as línguas possíveis sejam escritos e inseridos no banco de dados do sistema da Amazon. Então, quando você fala para a Alexa acender a luz ou ligar a televisão, isso só acontece porque um trabalhador colocou essa informação lá.

O famoso e temido algoritmo do Facebook também não escapa da reflexão ácida do professor. Ele afirma que muito do que é liberado ou bloqueado na maior mídia social do mundo é definido por milhares de pessoas, que passam o dia inteiro vendo e moderando as milhões de postagens feitas todos os dias na plataforma. “O Facebook já foi obrigado a pagar uma indenização milionária para estes moderadores, pois eles desenvolveram estresse pós-traumático como se tivessem voltado de uma guerra, porque são bombardeados todos os dias com conteúdo de violência explícita que precisam moderar”, explica. Em geral, estes trabalhadores, embora precarizados, tem uma boa qualificação e moram em países  como a Índia, Brasil, dentre outros do sudeste asiático e América Latina.

Além das grandes empresas de tecnologia, existem várias pequenas, que exploram ainda mais seus empregados e parasitam os serviços oferecidos pelas gigantes, testando os limites do que é proibido pelas políticas de uso das principais mídias digitais. Conhecidas como “fazendas de clique”, estas plataformas usam a internet para recrutar pessoas com baixa qualificação e em geral com um histórico de trabalho informal e precarizado. Nesse tipo de negócio, os empregados têm longas jornadas de trabalho para uma remuneração abaixo de um salário-mínimo. Como o próprio nome diz, as fazendas de cliques prometem aos influencers ou gente que sonha ser influencer digital, aumentar consideravelmente o número de seguidores de seus perfis nas mídias sociais. Para garantir isso, elas se tornam o motor de um mercado de contas fake na internet, operado por milhares de pessoas que passam até 18 horas por dia clicando em páginas e postagens. Esse modelo de atividade, baseado na falsificação de informações, invariavelmente avança para uma série de crimes digitais que vão de perfis fakes, até golpes com cartão de crédito, passando pelo roubo de dados.

Confira tudo isso no vídeo a seguir, disponível no canal do Instituto Lula:

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