Entre 2018 e 2020, sob Bolsonaro, aumentou em 57% número de militares na administração pública federal, informa estudo da doutora em Relações Internacionais Mariana Kalil, vencedora de edital do Instituto Lula de 2021
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25/11/2022 13:11
Dados do Tribunal de Contas da União (TCU) apontam aumento de por volta de 57% no número de militares na administração pública federal entre 2018 e 2020. Essa é a premissa da qual parte o artigo da doutora em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB) Mariana Alves da Cunha Kalil, vencedora de edital do Instituto Lula de 2021. O estudo sobre as motivações geopolíticas para ampliação da presença militar na política brasileira entre 2013 e 2022 foi apresentado nessa quarta-feira (23) pelo canal do Instituto. Os comentários são do doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP) Antônio Jorge Ramalho.
Desde o governo de Michel Temer houve uma militarização da administração pública federal que tem alguns símbolos, como a reconstituição do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), com um general da reserva à frente, explica a pesquisadora. Após o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, a participação dos militares no governo federal cresceu chegando aos 57% entre 2018 e 2020, já sob Jair Bolsonaro.
Geopolítica
Em uma democracia, lembra a especialista, as relações civis/militares acontecem pela via da submissão do poder militar ao poder civil. “A gente sabe que a América Latina em geral e o Brasil em particular são casos em que não há uma separação ou interação da forma como se prega pelo Ocidente”, diz Mariana Kalil, explicando porque passou a estudar o assunto.
“Há motivações domésticas para o envolvimento dos militares na política: conservadorismo, antipetismo, anticomunismo. Aí senti falta do componente internacional dessa participação, que sempre há. Assim, o que apontei como proposta nesse estudo é que a percepção da encruzilhada do século 21 entre China, Rússia e Estados Unidos teria sido parte da motivação para o envolvimento dos militares com a política, em especial a administração pública federal.”
Desde 2013, lembra ela, há um processo de localização de ideias internacionais que têm como centro a sociedade norte-americana, resumidas na noção de globalismo e anti-globalismo. “E vão se revelar no Brasil em paralelo ao crescimento da noção de que um deslocamento do centro dinâmico do Ocidente para o Oriente seria uma ameaça existencial ao Brasil e aos Estados Unidos.”
Acompanhe o webinário
Os webinários
O estudo sobre os militares faz parte do tema Desafios da Ordem Global e compõe a série de projetos vencedores de editais do IL, exibidos ao longo de segundo semestre deste ano.
A primeira série de webinários abordou temas acerca da Soberania e Segurança na Era Digital
Segundo ciclo de webinários trata de Desigualdades: Identidades e Cuidados
Fruto do Ciclo de Estudos e Pesquisas que trata das Novas e Velhas Desigualdades na Era Digital, o Instituto Lula promove essa série de 18 webinários que apresentam e debatem estudos aprovados em chamadas públicas realizadas pelo IL no final de 2021.
O edital PesquisAção ofereceu bolsas de R$ 6 mil cada para a realização de pesquisas. Um segundo edital ofereceu bolsas de R$ 3 mil para a produção de artigos. Os contemplados agora dividem seu conhecimento com o público por meio dessa série de webinários. Além disso, serão publicados três livros com uma coletânea desses artigos e pesquisas.
O último webinário desse projeto será exibido na próxima quarta-feira (30), a partir das 19h, pelo canal do Instituto Lula. A doutora em Direito Tributário Ludmila Monteiro de Oliveira falará sobre Tributação Global e Desenvolvimento, com comentário do pós-doutorado em Democracia e Direitos Humanos Onofre Alves Batista.