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Petrobras: O que o Jornal Nacional escondeu de você


Petrobras: O que o Jornal Nacional escondeu de você

O anúncio de que Jair Bolsonaro decidiu trocar o presidente da Petrobras – um nome "do mercado" – por um general derrubou o preço das ações da empresa, provocou reações da grande imprensa e causou polêmica até mesmo entre apoiadores do presidente da República. Entre essas reações, destaca-se a edição do Jornal Nacional da última terça-feira (23). Nesta noite, o jornal apresentou uma narrativa única e sem contraditório, apresentando o mercado como mocinhos e supostas "interferências políticas" – personificadas em Lula e Dilma Rousseff – como vilãs da história.

Chama a atenção que a reportagem exibida pelo jornal fugiu ao padrão do próprio JN em vários aspectos. Primeiro, pelos seis minutos de duração – extremamente longa –, mas principalmente por ter contrariado todos os manuais de redação e não ter ouvido o outro lado. O resultado é uma peça que mais parece um reclame publicitário do que uma matéria jornalística.


Foto: Reprodução / TV Globo

O Instituto Lula acredita que a informação não pode ser sonegada e foi conversar com um especialista independente para ajudar a entender o que está acontecendo com a Petrobras. Convidado desta edição do Encontros Instituto Lula, William Nozaki é diretor-técnico do Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo (Ineep), uma das raras instituições do ramo petrolífero sem ligação com o mercado financeiro ou empresários do setor. Na avaliação de Nozaki, a referida matéria "refaz toda a narrativa neoliberal do que seria a história da Petrobras desde a descoberta do pré-sal até essa crise mais recente dos preços".

Não existiria pré-sal sem investimento

Quando Lula assumiu a Presidência, o valor de mercado da Petrobras era de cerca de R$ 55 bilhões. Esse valor chegou a R$ 510 bilhões no segundo mandato do ex-presidente. 

Apesar de esse salto só ter sido possível graças a muito investimento e trabalho, Nozak atenta para o fato de que o "roteiro neoliberal construído acerca da história da petrolífera apresenta o descobrimento do pré-sal como se ele fosse uma dádiva do acaso". Na verdade, ele é "resultado de profundos pacotes de investimento em prospecção, geologia e engenharia, que levou a Petrobras a desbravar uma fronteira de exploração de águas ultra profundas, que pouquíssimas empresas têm condição de realizar".  

O professor explica a grandeza do feito: "As reservas do pré-sal ficam localizadas a cerca de 300 km da costa brasileira e a 7 km de profundidade. A descoberta de petróleo em condições tão adversas é resultado de grandes investimentos, que foram realizados de maneira muito pujante sobretudo nos governos Lula e Dilma".

O milagre Temer

O Jornal Nacional apresenta a Petrobras como a "empresa mais endividada do mundo" e que foi salva por Michel Temer e o presidente que ele escolheu para a empresa, Pedro Parente. Mais uma vez, o jornal esconde que depois de encontrar a maior reserva energética do século 21, a Petrobras se preparou para fazer jus ao desafio. 

Investimentos foram feitos na construção de novas plataformas, navios, sondas, contratação e formação de mão de obra, ampliação do parque de refino. Esse investimento estava mais do que assegurado pelas dezenas de bilhões de barris nas reservas recém-descobertas. Mas o Jornal Nacional apresenta isso como se fosse um endividamento irresponsável. Para Nozaki, "essa explicação é problemática, já que o endividamento é resultado do imenso pacote de investimentos que colocou o Brasil na lista dos dez países mais relevantes no setor de óleo e gás, o que está longe de ser ineficiência de gestão".

O jornal elogia a administração Temer (continuada por Bolsonaro) que passou a desinvestir e vender ativos da empresa, condenando a capacidade de a Petrobras encontrar novas reservas e até mesmo de gerir as reservas atuais.

Diferentes modelos de empresa, diferentes projetos de país

Lula sempre disse que não queria que a Petrobras fosse apenas uma empresa de petróleo, mas uma empresa do desenvolvimento nacional. E as coisas estavam caminhando nesse sentido até o golpe de 2016. A indústria brasileira fornecia a maior parte dos equipamentos para a enorme cadeia produtiva da Petrobras. Isso significou mais empregos qualificados e salários que faziam a economia girar aqui no Brasil. 

A partir do governo Temer, a Petrobras volta a um modelo mais próximo ao dos anos 1990 e passa a ser uma empresa focada apenas na venda de petróleo cru. "Desde o golpe 2016 a empresa tomou a decisão de que vai deixar se ser uma grande empresa petrolífera, integrada do poço ao posto, para se converter simplesmente em uma exploradora e produtora de petróleo na área do pré-sal", resume Nozaki.

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