Ex-presidente termina passagem por Santa Catarina "com o pé no barro" e cumprindo compromissos com famílias de produtores e cooperativas rurais de Nova Erechim e São Miguel
Lula em visita à cooperativa de sementes Oestebio. Foto: Ricardo Stuckert
26/03/2018 08:03
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Por Cláudia Mota
Para a Rede Brasil Atual
"Depois de tanta coisa, é muito bom uma visita como essa que fiz hoje", disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em uma propriedade de agricultura familiar solidária em Nova Erechim, Santa Catarina. Nesse momento, a "tanta coisa" a que ele se refere nem havia registrado ainda o ataque ao ônibus no trajeto entre município e São Miguel do Oeste. O ambiente de festa, apesar da chuva, tinha crianças brincando, gaiteiros tocando e cheiro bom de comida no ar. E novamente marcava o gritante contraste com as praças de guerra provocadas pelos "agroboys" em diferentes momentos da caravana.
Rolnei Worma de Souza, 28 anos, estava lá com a mulher Josecler Biazus, 25, e a filha Heloísa, 1 ano e 8 meses. "Estamos na agricultura desde que nascemos. Ele foi um dos pilares nossos aqui. Financiamento com juro barato, habitação, o ponto inicial foi tudo ali. Praticamente 90% da agricultura aqui adquiriu algum tipo de financiamento, que foi um salto na agricultura."
E nisso incluem-se também os que têm criticado e muitas vezes patrocinado as agressões a Lula em sua passagem pelo Sul. "É gente que tem dois, três tratores e não reconhece. Conseguiram e não dão valor", disse Rolnei, citando ações como Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf), Mais Alimento, crédito fundiário, Minha Casa Minha Vida Rural.
Foi numa dessas casas, de dona Justina Pandolfo, que Lula tomou um café da manhã e ouviu da família as dificuldades que vêm passando desde o golpe que tirou a presidenta Dilma Rousseff da Presidência da República. A família descreveu os problemas enfrentados para a produção de leite no oeste catarinense e ouviu que programas de auxílio ao pequeno produtor, como Pronaf e Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), estão sendo desconstruídos.
A família de Eleandro Pandolfo tem 12 vacas leiteiras na propriedade, cada uma produzindo uma média de 16 litros por dia. "Na região, 14 produtores já desistiram. Os programas que mantinham as famílias produzindo e na terra desde 2003 já não existem mais. Não tem como a gente seguir se a produção custa R$ 0,90 e vendemos o litro a R$ 0,68."
Cláudio de Paula, 57 anos, de Pinhalzinho, trabalha na roça desde os 8. E comentava outra preocupação recorrente dos trabalhadores sob o governo Temer. "Trabalho há mais de 40 anos e nunca vou aposentar. Estou todo quebrado, as costas, tudo. Agora estão só a favor dos grandes, ninguém tem dinheiro."
Em sua fala, Lula reforçou compromisso com a agricultura familiar e a proposta de fazer um plebiscito revogatório contra todas as medidas que retiraram direitos dos trabalhadores: "Qualquer governo deveria saber que é muito barato cuidar das pessoas de bem. E é muito caro cuidar das pessoas que não prestam".
Ilce Pierozan Foppa, agricultora de 47 anos, casada, tem dois filhos e duas netas. E valoriza a vida em comunidade na agricultura familiar. "Estamos pensando num país melhor para a família e para as futuras gerações."
À tarde, a Caravana chegou a São Miguel do Oeste. A hostilidade de ruralistas na entrada do município não abalou o ânimo de quem esperava para ver Lula. A Cooperativa Regional de Comercialização do Extremo Oeste (Cooperoeste), primeira parada na cidade, é uma das mais importantes indústrias de leite no estado, produzindo mais de 100 milhões de litros ao ano.
Uma história que teve início em 1985, com a ocupação por cerca de 550 famílias da área de terra que deu origem aos primeiros 14 assentamentos da região. Em 1996, a cooperativa é criada, tornando-se a primeira indústria de leite tipo C e dos produtos orgânicas da marca Terra Viva. A Cooperoeste atua hoje em mais de 160 municípios e trabalha com aproximadamente 2 mil agricultores.
O dia terminou na Cooperbio, cooperativa de insumos agrícolas e biodiesel da região. Rudinei José Cenci, de 29 anos, coordenador nacional do MAB, movimento dos atingidos por barragens, falou sobre a visita. "É muito importante para chamar a atenção da sociedade, da importância de construir um projeto de sociedade que represente a classe trabalhadora e os interesses dos mais pobres."
O MAB quer que Lula, caso seja eleito, ajude a construir uma política nacional de direitos para os atingidos. O movimento defende que as empresas de geração de energia sejam públicas, sejam públicas, "do povo", tratando energia como produto serviço estratégico para as necessidades internas e a soberania nacional.
A etapa Sul da Caravana Lula pelo Brasil chega nesta segunda-feira (26) a sua fase final, no estado do Paraná, onde está previsto ato da agricultura familiar em Francisco Beltrão, a partir das 10h. De lá, a comitiva parte para Foz do Iguaçu de avião onde, às 17h será realizado o Seminário Internacional da Tríplice Fronteira. O ex-presidente estará ainda nas cidades de Quedas do Iguaçu, Laranjeiras do Sul e Curitiba, onde o trecho sul da caravana será encerrado com um ato público na tarde de quarta-feira (28).