Doe Agora!

Transformações em andamento na América Latina

Artigo de Giorgio Romano, especialista em relações internacionais, é um dos vencedores de edital do Instituto Lula


Transformações em andamento na América Latina

Reprodução

Professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, Giorgio Romano abre o terceiro ciclo de 18 webinários  frutos do Ciclo de Estudos e Pesquisas do Instituto Lula, que trata das novas e velhas desigualdades na era digital. A América Latina diante do “deslocamento” do centro dinâmico do Ocidente para o Oriente foi o tema desse artigo premiado por edital do IL  e apresentado nessa segunda-feira (22). Os comentários foram feitos por Pedro Barros, técnico em pesquisa pelo Ipea e doutor em integração da América Latina, e Ana Penido, pesquisadora do Instituto Tricontinental e doutora em relações internacionais. 

Giorgio faz uma reflexão sobre as transformações em andamento na economia e na política, que têm uma interação muito forte. Para tanto, usou três abordagens. O deslocamento do eixo dinâmico do Atlântico Norte para o Pacífico. Aborda, ainda, a questão do declínio do poder dos Estados Unidos, do Atlântico Norte. E discute a ideia de o mundo estar diante de uma Segunda Guerra Fria. Tudo isso, explica ele, é repercutido na América Latina, levando em conta a presença da China nesse cenário, a reação norte-americana e o papel da Europa na relação com o Mercosul.


Segundo eixo

O pesquisador afirma que não há o deslocamento de um eixo para outro, mas o surgimento de um segundo eixo dinâmico da economia internacional. Giorgio lembra o crescimento do Japão na década de 1970, ocupando 10% do comércio internacional e chamando a atenção. Assim começa essa ideia do deslocamento do eixo dinâmico. “Nos anos seguintes é a China que vai substituir o Japão como o líder. E esse crescimento dá um novo gás para essa ideia do deslocamento.”

Para ele, no entanto, há simplesmente dois eixos dinâmicos. E os espaços de disputa não se dão somente entre esses eixos, mas também dentro deles.  

O especialista em relações internacionais comenta ainda o papel da Rússia, a guerra com a Ucrânia, a Índia, a presença norte-americana na região do Pacífico. 

“Embora haja hoje a hipótese de um declínio forte dos Estados Unidos, isso não é certeza. Estamos no meio de uma guerra em torno da Quarta Revolução Tecnológica Industrial. Os trilhões que (Joe) Biden (presidente dos EUA) está gastando tem muito essa função de tentar recuperar e manter a liderança dos Estados Unidos à frente dessa revolução e aumentando de novo os gastos militares”, avalia.

Há uma volta clara ao nacionalismo econômico, segundo o professor, com maior poder do Estado para defender a economia e garantir que os ganhos da Quarta Revolução Tecnológica Industrial sejam concentrados e apropriados por cada país. “Isso acontece na Alemanha, na Europa em geral, nos Estados Unidos, na China. A covid acelerou isso porque mostrou a fragilidade das cadeias produtivas internacionais e a guerra na Ucrânia reforçou ainda mais. E tem a questão ambiental que por si só já é motivo para questionar a lógica da organização global da produção internacional.”

Há, explica, um avanço da China nas relações comerciais com a América Latina. “A China avançou muito também nos investimentos.”

RECOMENDADAS PARA VOCÊ