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Trabalhadores latino-americanos são superexplorados

Em aula dos institutos Lula e Patria, professor Fábio Maldonado comenta como subordinação ao sistema mundial agrava a exploração dos trabalhadores na América Latina


Trabalhadores latino-americanos são superexplorados

Reprodução

A dependência econômica da América Latina, numa inserção subordinada ao sistema mundial, faz com que os países reproduzam o capital de acordo com os países imperialistas. “E essa subordinação faz com que a produção, a economia, a sociedade estejam de acordo com os interesses dos países centrais”, criticou o professor de relações internacionais Fábio Maldonado, da Universidade Paulista (Unip), especialista em integração da América Latina. Maldonado participou da terceira aula do curso  promovido em parceria entre os institutos Lula, do Brasil, e Patria , da Argentina. O professor destacou um dos graves problemas dessas dependência: a superexploração do trabalho. “Nossos trabalhadores são superexplorados: na jornada de trabalho, na intensificação do trabalho, nos baixos salários.”

A aula, realizada no último dia 4, teve como tema “O fortalecimento do Estado e a política externa soberana”. Participaram ainda o sociólogo argentino, jornalista e doutor em economia Jorge Elbaum, e o embaixador argentino Carlos Raimundi, professor, advogado e ex-deputado.

O professor Maldonado afirma que o ponto central dessa situação não é somente a financeirização, a especulação do mercado financeiro. “O papel da desindustrialização impacta de maneira importante a classe trabalhadora”, diz, sobre uma situação agravada principalmente no Brasil desde o golpe de 2016. “Não é por acaso que a mineração e o agronegócio são dois eixos importantes nesse novo padrão de acumulação de capital. E não é por acaso que comunidades indígenas no Brasil, no Equador, estão se levantando para a luta porque estão sendo novamente dizimados por esse processo de financeirização.”

Transição e possibilidades

Maldonado falou também sobre a correlação de forças internacional e lembrou que El Salvador, por exemplo, tem um governo de extrema-direita com muitas semelhanças com o de Jair Bolsonaro, no Brasil. “Em uma análise mais geral se vê esses traços em comum. Temos o desafio de tentar compreender as estruturas do sistema até chegar a questões mais concretas da região, dos países, as disputas de classes sociais, as conexões internacionais.”

O sistema capitalista mundial, apontou ele, tem sempre, historicamente, um país hegemônico, imperialista. Isso é secular. “A mudança de potência hegemônica nunca é pacífica”, disse o professor, relatando as alterações ocorridas após a Segunda Guerra Mundial. “As instituições foram, então, desenhadas por interesses norte-americanos”, disse, citando ONU, Banco Mundial, Otan e o padrão ouro/dólar lastreando a economia internacional.”

O professor listou uma série de eventos em todo o mundo, que questionam, ao longo da história essa dominação norte-americana, como o massacre no México, em 1968, e o movimento de contracultura dos negros, da cultura, das mulheres, nos Estados Unidos. Tudo isso desemboca nos anos 1990 e leva aos anos 2000 com as guerras no Iraque,  no Afeganistão e na crise de 2008, ainda não resolvida, avalia ele.

“Estamos no período de transição no padrão de reprodução do capital em nível mundial. Não sabemos para onde vamos. Esse período abre todas as possibilidades”, diz, mencionando a atual guerra comercial entre Estados Unidos e China e a pandemia nesse cenário.

“A China contesta a hegemonia norte-americana, mas temos de olhar o impacto da China na América Latina”, explica. “Ela abre possibilidades como opção aos Estados Unidos, mas de que maneira queremos nos vincular a China?”, questionou.

Acompanhe a aula


O curso

As aulas são ministradas por pesquisadores brasileiros e argentinos às quartas-feiras (20 e 27 de setembro, 4 e 11 de outubro), entre 18h e 20h.

No dia 20, a socióloga, escritora e pesquisadora Maria Cecilia Miguez e o professor de relações internacionais Anselmo Otavio , da Universidade Federal de São Paulo (EPPEN/UNIFESP), falaram sobre “As limitações dos organismos multilaterais do pós-guerra na atualidade: FMI, Conselho de Segurança da ONU e OMC”.

“Rumo a uma nova arquitetura global de financiamento para o desenvolvimento” foi o tema da aula do dia 27 de setembro ministrada pela socióloga argentina Maria Haro Sly e pelo professor titular do Instituto de Economia da Unicamp Ricardo Carneiro , ex-diretor executivo pelo Brasil no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em Washington.

No dia 11, a última aula terá como tema “Política fiscal na região: para uma maior e melhor distribuição” na aula do tributarista e professor argentino Alejandro Otero e da professora Esther Dweck, doutora em Economia da Indústria e da Tecnologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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