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Algoritmos atuam para desregular trabalho

Estudo apresentado pelo pesquisador Ésio Salvetti, vencedor de edital do Instituto Lula, demonstra pressão dos grandes investidores de plataforma para desregulamentação da legislação trabalhista


Algoritmos atuam para desregular trabalho

Reprodução

A algoritmização dos comportamentos atuando nos meios de produção e nas relações de produção levou o agravamento da precarização do trabalho. Essa é uma das principais conclusões do artigo apresentado do pesquisador Ésio Francisco Salvetti. Apresentado na quarta-feira (19), em webinário transmitido pelo canal do Instituto Lula, o estudo é um dos vencedores de edital do IL . Os comentários são do doutor em Filosofia Paulo César Carbonari.

O pesquisador falou sobre a governamentalidade algorítmica da vida e sua consequente precarização nessa era digital. “Essa algoritmização dos comportamentos está produzindo um salto qualitativo nas metodologias de controle social, na agilidade de resposta, assim como no impacto que essas tecnologias têm no comportamento do sujeito.”

Salvetti explicou o fenômeno lembrando que atualmente, mesmo depois de sair da jornada, do local de trabalho, há possibilidade de controle do tempo e do espaço do trabalhador. O próprio ato de trabalhar não se limita mais à jornada. “Somos demandados a qualquer tempo.”

E isso é possível devido ao “modo de ser e de agir dos algoritmos”. Depois da captura, da coleta dos dados nas redes, eles processam e correlacionam essas informações. Após isso, perfilam os sujeitos. “Os algoritmos nos conhecem nos mínimos detalhes. E assim conduzem na busca de produtos, por exemplo, e até a comportamentos mais endógenos, criando bolhas de relacionamento, com profundas alterações políticas e democráticas. Os algoritmos estão conduzindo comportamentos e isso é altamente problemático.”

Trabalho plataformizado

As consequências disso nos meios de produção e nas relações de produção é o agravamento da precarização do trabalho. “Constatei nesses meses de pesquisa que onde essa tendência de trabalho plataformizado (como o Uber) onde essa tendência se instala ocorre um grande pressão para flexibilização, desproteção e obscurecimento das relações de emprego”, afirma o pesquisador.

“Nessa era da algoritmização o que se percebe é a pressão dos grandes investidores de plataforma para uma total desregulamentação da legislação trabalhista que causa estrategicamente uma desorganização do mercado de trabalho”, explicou, lembrando a reforma trabalhista feito no Brasil pelo governo de Michel Temer e mantida por Jair Bolsonaro.

O resultado desse processo foi a emergência de uma nova classe social chamada de precariado.

Para desarmar essas armas, trazer justiça à era dos dados, o pesquisador ressalta que os algoritmos não são intrinsicamente perversos. “Mas algoritmo num sistema perverso é outra coisa”, diz. “Tratar da algoritmização significa tratar de um tema que é o eixo central do atual sistema econômico.”

E lembra que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) é importante, por instigar uma cultura jurídica, social e política sobre a proteção de dados. Mas alerta: “O elemento fundamental da resistência a esse fenômeno é pensar políticas públicas para esse tema. Não basta apenar legislação.”

Assista ao webinário

O estudo de Ésio Salvetti, sobre o tema "Identidades Sociais e Desigualdades na Era Digital", faz parte da série de 18 webinários  vencedores de editais do IL, exibidos ao longo de segundo semestre deste ano.

A primeira série de webinários abordou temas acerca da Soberania e Segurança na Era Digital

Segundo ciclo de webinários trata de Desigualdades: Identidades e Cuidados


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