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Tecnologia deve estar a serviço da soberania

Pesquisa de Mateus Mendes, promovida pelo Instituto Lula, demonstra como dados de TI podem ser usados contra o povo e o Brasil


Tecnologia deve estar a serviço da soberania

Reprodução

Pesquisa de Mateus Mendes, promovida pelo Instituto Lula, demonstra como dados de TI podem ser usados contra o povo e o Brasil

“Os e-mails e classrooms das universidades federais estão na mão do Google, só para dar um pequeno exemplo do perigo que isso é para a soberania nacional.” Assim o mestre em Ciência Política Mateus Mendes de Souza demonstrou a importância do tema debatido em seu seminário sobre o uso das tecnologias da informação e comunicação a serviço de um Brasil soberano, desenvolvido e igualitário.

Um dos vencedores do edital de PesquisAção de 2021, do Instituto Lula, Mateus apresentou ao público seu trabalho nesta sexta-feira (29), em webinário transmitido pelo canal do Instituto Lula . O estudo foi comentado pela especialista em ciências humanas e sociais Debora Machado e por Lucio Massafferri Salles, especializado em filosofia política.

Os dados são, atualmente, um dos principais instrumentos para acumulação de capital, observou Mateus. Quem detém a tecnologia para “minerar” e interpretar esses dados em valor, está em vantagem econômica, diz, lembrando que todas as atividades hoje em dia estão muito vinculadas à internet. “Tudo isso está fornecendo dados que vão servir para essa acumulação”, afirma.


Falta tecnologia

“No caso do colonialismo de dados, é interessante observar que nos países periféricos, caso do Brasil, não temos tecnologia para trabalhar em alto nível essas informações. Muitas vezes esses dados são operados por empresas de fora do país”, ressalta, citando Facebook, Google, Apple. “Servem de infraestrutura para informações sigilosas”, critica, mencionando os dados das universidades federais.

Mateus explica que, ao se expressar nas mídias sociais, as pessoas estão fornecendo dados que podem ser contabilizados, quantificados e assim favorecer o perfilhamento da população. “E a partir disso desenvolver mecanismos de persuasão e modelagem”, alerta o pesquisador. “E quem detém esse know-how são os grupos de direito e defensores da ideologia neoliberal.”

No caso brasileiro, destaca ele, quando se fala em neoliberalismo estamos falando de um modelo político econômico que gera miséria, vulnerabiliza a população e está associado a governos entreguistas que atentam contra a soberania nacional. “E para obter isso não foi necessário invadir nossas fronteiras, mas o país hoje é submisso. É isso que se assiste desde que o governo Michel Temer assume depois do golpe.”

Para mudar

Para o pesquisador, o mais interessante é notar como esses métodos foram eficientes para fazer com que a população levasse ao poder um governo que é mais neoliberal, ou seja, ainda mais prejudicial ao povo e mais entreguista. “Esses grupos associados a políticos de direita e extrema-direita saíram na vantagem, conseguiram desenvolver know-how para usar as mídias sociais e as tecnologias de informação e comunicação em geral para convencer a população a ir às ruas ou votar em propostas que atentam contra os interesses da classe trabalhadora.”

Mateus conclui com uma proposta para “derrotar esse projeto regressivo e lesivo à soberania nacional”. “Urge conhecer os mecanismos e as ferramentas que a direita tem usado para travar a luta ideológica”, recomenda. “Especialmente aprofundar os estudos sobre psicologia comportamental e ciência de dados”, diz. Além disso, “habilitar quadros políticos para fazer esse enfrentamento para travar a luta em ambiente digital”.

Outros webinários

Este foi o terceiro seminário da série Soberania e Segurança na Era Digital. O primeiro foi ao ar no dia 25 com a pesquisadora Gisele Orlandi Introíni, do Laboratório de Inovação, Prototipagem, Educação Criativa e Inclusiva (Lipecin) da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). Gisele falou sobre a fabricação digital , em impressoras 3D, como alternativa para autonomia do SUS.

Na terça-feira (26), o especialista em segurança cibernética Eduardo Izycki exibiu um amplo painel sobre a questão da insegurança cibernética  global.

Ao todo, o Instituto Lula promoverá 18 seminários neste semestre. Eles são fruto de dois editais lançados no final de 2021. O edital PesquisAção ofereceu quatro bolsas de R$ 6 mil cada para a realização de pesquisas. Um segundo edital ofereceu 15 bolsas de R$ 3 mil para a produção de artigos. Os contemplados agora dividem seu conhecimento com o público também por meio dessa série de seminários em nosso canal do Youtube.

Em 1º de agosto, o tema da soberania digital se encerra com o webinário que vai tratar do papel das empresas de tecnologia na cibersegurança internacional. Alexandre Arns Gonzales falará sobre a integridade eleitoral: a política das plataformas de mídias digitais para as eleições de 2022 no Brasil.

Debates em setembro

No mês de agosto, nos dias 4, 9, 12, 17 e 19, o webinário trará para debate o tema Desigualdades: Identidades e Cuidados. Nos dias 22, 24, 26, 29, 31 de agosto e 2 de setembro, em pauta os Desafios da Ordem Global. Para encerrar o ciclo de debates, nos dias 5, 13 e 15 de setembro, o tema será Inclusão e Combate às Desigualdades. 

Com transmissão pelo youtube do Instituto Lula , os webinários têm início sempre às 19h.  

Contribuição à sociedade

Fruto do Ciclo de Estudos e Pesquisas do Instituto Lula que trata das novas e velhas desigualdades na era digital, os 18 webinários apresentam e debatem estudos aprovados na chamada pública realizada pelo IL no final de 2021. Todos, agora, estão na etapa final.

“Depois de alguns meses de trabalho e discussões internas, esse é um momento oportuno para os autores receberem comentários, críticas e sugestões de convidados externos sobre seus trabalhos”, afirma o professor Luís Vitagliano, coordenador do núcleo de articulação e integração do projeto Velhas e Novas Desigualdades da Era Digital , do Instituto Lula.

“São estudos e pesquisas diretamente relacionados aos propósitos de atuação do Instituto Lula. O objetivo é contribuir para o esclarecimento e a solução de problemas relacionados ao desenvolvimento e soberania nacional, a redução das desigualdades e ao avanço social, político, econômico e ambiental do Brasil na era digital”, destaca Jorge Abrahão de Castro, integrante do Grupo de Acompanhamento de Temas Estratégicos (Gate) do Instituto Lula e curador dos debates.

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